Pergunte a Ela!
Então, Elis?
Estou aqui te
ouvindo em forma de música,
mas...
bem que eu
queria ouvir você sobre o mundo de hoje.
Você dizia o
que pensava e o que queria,
dizia o que
achava e sempre achava o que dizer
e, lhe
confesso, me parecia que você era honesta
com o que pensava
e o que sentia, com o que achava e então dizia,
fosse de fala
falada ou fosse de fala cantada.
Escuto o que
você dizia há mais de trinta anos
e, acredite, ainda
parece tão o mundo de hoje...
mas...
bem que eu
queria mesmo era ver você olhando o hoje
com os seus
olhos de sempre,
tentando
ajustar o seu olhar ao grau do século 21.
Criaria você
novas frases, suas famosas frases?
Ou adaptaria
as suas frases de ontem ao hoje?
Um hoje
louco, rápido, efêmero
como todos os
hojes que viraram ontens,
mas sinto que
o hoje de agora é tão rápido
mal temos
tempo de vivê-lo,
quando o
fazemos, o fazemos a distância
através de um
troço (ainda mais louco que o mundo) chamado internet.
Pois é, nome
importado. Só podia.
Afinal, um
troço que nos faz trocar um toque por um clique
não pode ser
coisa de brasileiro
Então, Elis,
toparia o desafio de visualizar e verbalizar o que vivemos hoje?
O mundo
continua nos surpreendendo
mas de uma
maneira - positiva
ou, por que não
dizer, + negativa?
Temos que
aumentar a nossa dose de “ser otimista” a cada dia,
precisando
até mesmo de overdose de otimismo
para conseguir
encarar o mundo de hoje
e sem vomitar
na primeira esquina.
Aliás, a
nossa música hoje está de dar náuseas.
São letras e
melodias que nos tratam como imbecis!
Não há mais
letras que nos desafiem,
que nos
toquem, que grudem como chiclete em nossa memória
até o fim de
nossos dias... ou até a próxima geração,
Assim como
você
e todas as
que você um dia cantou,
É, bicho, tá
cada vez mais difícil
(quase
impossível)
gostar do que
tem sido produzido ultimamente
e, atrevidamente,
chamado de música, de filme, de livro...
E eis que
lanço o meu desafio:
o que você
iria dizer do mundo hoje?
Ficaria
quieta e sorrindo?
Daria uma
gargalhada e começaria a cantarolar?
Ficaria vesga
de raiva?
Ou abriria o
verbo sem se incomodar com o que estão postando?
Sim, porque
hoje já não se publica:
postam o que
querem, como querem, quando querem,
seja para
ofender ou agradar
e ainda têm a
petulância de chamar isso de liberdade de expressão!
Hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha!!!!!!!
Liberdade de
palavrão, de agressão, mas de expressão?
Você bem
viveu o período das trevas
no qual as
pessoas realmente tinham a sua liberdade de criar podada,
arrancada
juntamente com as suas almas e sua dignidade.
Um poema, uma
canção, um ideal eram metralhados
juntamente com
seus criadores
jogados no
porão sujo da dita e dura realidade.
Hoje, a própria
ditadura ficou superficial, fútil
e tem até nome
e sobrenome: ditadura da beleza.
A diferença é
que hoje as pessoas,
ao contrário
de tantos irmãos de Henfil, Caetanos e
Gils
e todas as
Marias e Clarices que choravam pelo Brasil
hoje, veja
você,as pessoas se cortam e até se matam
se matam para
seguir uma ditadura!
É,
Pimentinha, minha língua arde de tanto que tenho para dizer,
mas com
certeza eu teria muito mais para ouvir
caso você
aceitasse o meu desafio
Tantas
perguntas eu faria
e tanto você
falaria
que até daria
para gravar um LP falado
porque esse
lance de cd não tem um pingo de charme
É, esse mundo
está precisando de charme, de educação...
inclusive de
perguntas!
Na verdade,
sabe o que eu acho mesmo?
Esse mundo tá
precisando é de mais Elis Regina!
(16/02/17)
(imagem https://i1.wp.com/matter00.files.wordpress.com/2014/03/matter-elis-regina.jpg)