sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Pergunte a Ela!



Então, Elis?
Estou aqui te ouvindo em forma de música,
mas...
bem que eu queria ouvir você sobre o mundo de hoje.

Você dizia o que pensava e o que queria,
dizia o que achava e sempre achava o que dizer 
e, lhe confesso, me parecia que você era honesta
com o que pensava e o que sentia, com o que achava e então dizia,
fosse de fala falada ou fosse de fala cantada.

Escuto o que você dizia há mais de trinta anos  
e, acredite, ainda parece tão o mundo de hoje...
mas...
bem que eu queria mesmo era ver você olhando o hoje
com os seus olhos de sempre,
tentando ajustar o seu olhar ao grau do século 21.

Criaria você novas frases, suas famosas frases?
Ou adaptaria as suas frases de ontem ao hoje?
Um hoje louco, rápido, efêmero
como todos os hojes que viraram ontens,
mas sinto que o hoje de agora é tão rápido
mal temos tempo de vivê-lo,
quando o fazemos, o fazemos a distância
através de um troço (ainda mais louco que o mundo) chamado internet.
Pois é, nome importado. Só podia.
Afinal, um troço que nos faz trocar um toque por um clique
não pode ser coisa de brasileiro

Então, Elis, toparia o desafio de visualizar e verbalizar o que vivemos hoje?
O mundo continua nos surpreendendo
mas de uma maneira -  positiva
ou, por que não dizer, +  negativa?

Temos que aumentar a nossa dose de “ser otimista” a cada dia,
precisando até mesmo de overdose de otimismo
para conseguir encarar o mundo de hoje
e sem vomitar na primeira esquina.

Aliás, a nossa música hoje está de dar náuseas.
São letras e melodias que nos tratam como imbecis!
Não há mais letras que nos desafiem,
que nos toquem, que grudem como chiclete em nossa memória
até o fim de nossos dias... ou até a próxima geração,
Assim como você
e todas as que você um dia cantou,

É, bicho, tá cada vez mais difícil
(quase impossível)
gostar do que tem sido produzido ultimamente
e, atrevidamente, chamado de música, de filme, de livro...

E eis que lanço o meu desafio:
o que você iria dizer do mundo hoje?
Ficaria quieta e sorrindo?
Daria uma gargalhada e começaria a cantarolar?
Ficaria vesga de raiva?
Ou abriria o verbo sem se incomodar com o que estão postando?
Sim, porque hoje já não se publica:
postam o que querem, como querem, quando querem,
seja para ofender ou agradar
e ainda têm a petulância de chamar isso de liberdade de expressão!
Hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha!!!!!!!
Liberdade de palavrão, de agressão, mas de expressão?

Você bem viveu o período das trevas
no qual as pessoas realmente tinham a sua liberdade de criar podada,
arrancada juntamente com as suas almas e sua dignidade.
Um poema, uma canção, um ideal eram metralhados
juntamente com seus criadores
jogados no porão sujo da dita e dura realidade.

Hoje, a própria ditadura ficou superficial, fútil
e tem até nome e sobrenome: ditadura da beleza.
A diferença é que hoje as pessoas,
ao contrário de tantos  irmãos de Henfil, Caetanos e Gils
e todas as Marias e Clarices que choravam pelo Brasil
hoje, veja você,as pessoas se cortam e até se matam
se matam para seguir uma ditadura!

É, Pimentinha, minha língua arde de tanto que tenho para dizer,
mas com certeza eu teria muito mais para ouvir
caso você aceitasse o meu desafio
Tantas perguntas eu faria
e tanto você falaria
que até daria para gravar um LP falado
porque esse lance de cd não tem um pingo de charme

É, esse mundo está precisando de charme, de educação...
inclusive de perguntas!
Na verdade, sabe o que eu acho mesmo?
Esse mundo tá precisando é de mais Elis Regina!





(16/02/17)












(imagem https://i1.wp.com/matter00.files.wordpress.com/2014/03/matter-elis-regina.jpg)
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