domingo, 31 de outubro de 2010

Ao Polvo do povo








Paul
polvo
palpiteiro que só
parece que passou dessa pra melhor

parceiro do povo
polvo palpiteiro
palpite porreta
parava o mundo inteiro

Paul se foi
por que é assim?
pena do bichinho
polvo palpiteiro
parece que fez muita fama
porém, não ganhou dinheiro

Paul
polvo
palpite
pena (de novo?)
pra ele homenagem
profeta do povo

Algum dia/Janeiro/2008 - 26/Outubro/2010

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Só criticando...




Se é uma das coisa que mais me irrita é esse excesso de segurança nos aeroportos. Tem coisas que são um absurdo. Será que eles acham que a gente vai sequestrar um boeing gigante daquele com uma pinça de sobrancelha? Será possível fazer toda uma tripulação de refém com uma pinça de sobrancelha?????? Nem se fosse uma tripulação de formigas!

E essa loucura  toda de levar no máximo 100 ml de líquido e não levar pote de creme ou shampoo? Qual a mulher que sobrevive com apenas 100ml de shampoo? Se lá fora eles não gostam de banho ou muito menos de lavar o cabelo, isso é problema higiênico-sexual deles, mas eu não posso nem imaginar minha vida sem lavar meu cabelo.

Será que eles cogitam a possibilidade de alguém explodir um avião com um pote de creme de tratamento com 30% lanolina, 40% queratina e o restante em óleo de macadâmia? Seria a explosão mais hidratada do mundo. Eu já vejo até os sobreviventes da explosão comentando:
- Lembra daquela explosão? Tanta coisa mudou, mas os meus cabelos...


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sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Dona Sinhá

vovó morreu
e desde então choro
como se fosse hoje
como se todo dia fosse o seu enterro

no seu enterro,
não pude chorar
consolei quem chorou
imaginei que eles podiam
eu não

só consolei os filhos
que vieram primeiro
e eram mais velhos, mais frágeis
dentre eles, minha mãe

achei injustiça com vovó
mas acho que ela entende
(ou entenderia)
agi como a mãe de seus filhos
protegendo-os, consolando-os

um grito do telefone
MORREU!
e este mesmo grito eu passei
pelo mesmo telefone
à uma colega de trabalho
MORREU!
ela ligou desprevenida do acontecido
assim como eu
quando liguei para titia
VOVÓ MORREU!
e abafei o choro

os filhos dela, mais velhos, mais frágeis
eu tinha que consolar
tomara que vovó me perdoe
não me perdoo até hoje
e choro
choro todo dia como se fosse hoje
o enterro de vovó que eu não pude chorar

consolei
fui mãe da minha própria mãe
que acabara de perder a sua
e fui mãe dos seus irmãos
todos mais velhos, mais frágeis

um choro abafado, pra dentro
cresceu dentro de mim
e a cada dia sai um pouco
(às vezes um pouquinho)
até quando? não sei

e choro tudo o que posso
basta ouvir, lembrar ou ver algo de vovó

será que ela me perdoa?
preciso me perdoar
como?
chorando até expulsar a última lágrima
o derradeiro soluço

vovó vai virar imagem boa
memória gostosa
bolo e galinha ensopada
suas histórias

perdão, vovó
perdão por não chorar como deveria
você não gostava que a gente chorasse
disfarçava
mandava olhar uma flor bonita

um dia tudo isso se aquieta, vó
e não choro mais
só lembro
sinto saudade

e conto suas histórias
para aqueles que um dia
não abafarão o choro no meu enterro
contarei suas histórias
para aqueles que um dia
serão meus netos


(28/10/10)
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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Vi (os bastidores do poema)


Ainda na faculdade de letras, a professora Lícia Beltrão pediu um trabalho no qual pudéssemos falar de um escritor.
Uma colega trouxe a sugestão "Ferreira Gullar". A professora num suspiro, colocou a mão no peito e disse "Não poderia ser melhor".
E assim iniciamos, uma colega e eu (não sei se ela gostaria de ver o seu nome publicado) uma viagem ao centro da terra Gullarística.
Poesia, fotos, biografias... Escrevi poemas dele e para ele. Até um poema só com os títulos de seus poemas. Antropofagicamente falando, comemos e digerimos Ferreira Gullar.
Quase um mês depois, o resultado: um livro enorme, capa dura e com a foto enigmática da Esfinge Gullar.

Apresentamos o trabalho e deixamos a emoção colorir tudo o quê recitamos e coreografamos, afinal, o corpo também quis falar de Gullar.

Algum tempo passou, eu de férias no Rio, uma peça baseada na obra de Ferreira Gullar estava em cartaz. Vergonha, eu sei., mas não lembro o nome. Conheci uma pessoa íntima do pessoal da produção da peça.
Pedi o contato e expliquei a minha história: havia levado o grande livro (a bíblia gullar) comigo para o Rio e queria entregar a ele em mãos.
Quanta audácia a minha, mas sonho é sonho e não é que deu certo? O rapaz me deu um telefone. Imaginei ser do escritório do Ferreira, que eu teria que marcar uma hora ou entregar para alguém que pudesse entregar para ele...

Liguei. Uma voz rouca atendeu.
- Alô?
- Alô?
- Eu poderia falar com o Ferreira Gullar?
- Quem deseja falar com ele?
E expliquei toda a minha história, desde o trabalho na faculdade até o sonho de entregar ao próprio Ferreira o  livro. Assim que terminei...
- É ele mesmo que está falando.
- Oh, Ferreira, assim você me mata do coração! Eu queria falar com você, mas não esperava falar com você.
Ele riu. E marquei de levar o livro no apartamento dele.

Era um apartamento de escritor, não tenho outra definição. Livros, jornais, papel e um gato. Aliás, o gato cuja foto eu tinha visto algumas vezes durante a minha pesquisa. O bichano estava lá e olhava a tudo com aquela invejável indiferença dos gatos.

Antes do gato, bem, teve toda aquela coisa de interfone e a voz dele dizendo "Pode subir". Acho que o meu coração já tinha subido muito antes da permissão ser concedida. Fui com minha mãe, a companheira de sempre. Diante da porta, ouvi o barulho e depois, Ferreira Gullar. Magro, um sorriso nos lábios, seus lisos cabelos grisalhos, uma roupa de casa, chinelos talvez, não me lembro, e fui convidada a entrar.

Tão surreal quanto um quadro de Dali era a minha imagem no centro da sala de Ferreira Gullar. E lá estava o gato. O poeta, na sua simplicidade dos grandes que sabem que são gtrandes, recebeu o livro da desconhecida estudante de letras como a quem recebe um prêmio. Sem grandes celebrações, mas uma discreta felicidade diante daquela obra não-autorizada.

 Que orgulho passar para suas mãos o trabalho que valeu muito mais do que qualquer monografia ou tese para mestrado. De mestre, só ele mesmo.

Fotos com ele, fotos com o gato, fotos com ele e o gato. Ele atendeu a todos os pedidos com simpatia, calma, uma paz interior daquelas que eu levaria algum tempo de terapia para atingir (eu e a torcida do flamengo, é claro).

Recebi dele um exemplar autografado (na hora) de Poema Sujo. Ao sair, não me contive e chorei em versos tudo o que vi com o poema "Vi" para falar da história de um nordestino ilustre na cidade maravilhosa e  uma ilustre desconhecida tendo o seu momento ilustre com o já ilustre poeta da atualidade, Prêmio Camões 2010 e 2011,2012,3010, 3011...

Ainda há muito o que Gullar, seu Ferreira!
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Vi


Quando vi Ferreira
Vi Ferreira
Ferreira o vi
Mas não acreditei que o tinha visto
,que o estava vendo
Apenas o vi
Senti que o estava vendo
Olhando para ele
Mas ainda assim não acreditei
Não acreditei quando contei para mim mesma que vi Ferreira
Eu o vi
Não acreditei nos meus olhos
Acho que me enganaram
Mas, apesar de ter ou não certeza de que o vi
, gostei de tê-lo visto
Gostei de ter visto Ferreira Gullar

E ele me viu e viu que eu o vi
Só não viu que eu acho que não o vi
(quem poderia ver isso?)
Mas o vi
Ele me viu
Estou feliz por ver este poema do dia que vi
,mas não acreditei que vi,
Ferreira Gullar.


(06/03/02)


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Funeral

- Ele apareceu pra mim.
- Apareceu? Como?
Aproximou-se mais e sussurrou:
- Aparecendo.
Aproximou-se ainda mais.
- Assim... como numa aparição?
- Sim. Daquelas que aparecem.
- Mas isso é grave!
- Sim. Grávida. Estou grávida.
- Da aparição.
- Não. De você.

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Ultimamente...
Ando tão apaixonada por mim mesma...
Tenho ciúmes até da minha própria sombra.

E você? Olhando o quê?
Nunca viu um Eu como eu não, foi?

Pois saiba que esse Eu aqui já está comprometido comigo mesma!































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Sexta Qualquer

Não tinha nada o que falar de si. O pior: eles, muito menos. Um drama? Uma comédia? Uma tragédia? Um nada. Uma página em branco que não fazia a mínima questão de ser preenchida.


Quanta honestidade. Não tinha muito o quê falar de si. O pior? Eles muito menos. Nada tinham para falar de nada da sua vida. Um tudo quase nada... E aquela arrogância da brancura do papel.

Queria (e sempre quis) escrever a sua autobiografia numa sexta-feira de um mês qualquer. Entretanto, que fatos escrever e descrever na sua autobiografia em plena sexta-feira de um mês qualquer?

Narrar a sua história. O que seria importante? O que os outros queriam saber? Compartilhava com todos eles aquela sexta-feira de um mês qualquer, mas carregava sozinho o fardo de não saber o que dizer de si próprio.

Quanta honestidade. Tinha muito pouco, quase nada para falar de si. O pior? Eles muito, mas muito menos.

Não teve dúvida. Deu um tiro no ouvido em plena sexta-feira de um mês qualquer. Agora sim, eles teriam o que falar.


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domingo, 24 de outubro de 2010

O que é ser humano hoje?





Se você é uma pessoa correta, que colabora com a preservação do meio-ambiente, trabalha honestamente, paga contas, faz parte de grupos sociais, ajuda a quem precisa (seja uma pessoa carente, um familiar ou um amigo), enfim você é tudo isso. Mas um dia você está andando na rua, vem um indivíduo qualquer que te assalta e de brinde te dá um tiro. Você morre. No momento não havia policiais a sua volta, nenhum advogado para defender os seus direitos, não havia ninguém que pudesse gritar ou te livrar do seu triste destino.

E o que acontece com o cara, o tal do indivíduo que tirou a sua vida? Aquele que te mandou desse para um lugar do qual você nem tinha idéia de como ou onde era? Ele ganha proteção policial, advogados chovendo de todas as partes e, o melhor de tudo, o grito de defesa do pessoal dos DIREITOS HUMANOS. Nada pode acontecer com aquele que tirou a sua vida, afinal ele é um ser humano. E você? Você é quem mesmo? Um qualquer que se meteu na frente de um revólver.

Logo, humano é todo aquele que mata, rouba, estupra, esquarteja, toca fogo em pessoas, faz tráfico de drogas, joga crianças da janela de um 10º andar...

Se você, meu amigo ou minha amiga, não está incluído em nenhum dos casos acima, é melhor arranjar outra classificação: ave, réptil, mineral, vegetal, anfíbio... porque de acordo com os Deuses dos DIREITOS HUMANOS você não merece ser tratado como tal.

E vamos começar a pensar na nossa nova classificação! Eu estou na dúvida entre ser um golfinho ou um abacate.





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Como não postar estas palavras? Adoraria que tivessem sido minhas...




“O que mais me preocupa não é o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem caráter ou dos sem ética. O que mais me preocupa é o silêncio dos bons.”




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GEnTE

falar de gente

falar pra gente

falar com gente

com a gente

da gente

só a gente

que gente!

gente boa

gente que é gente

gente que faz

e faz mais gente

gente que nem a gente

e assim a gente segue

sozinho ou não

segue o caminho da gente

que não é igual

nem diferente

de nenhuma gente

origem e final

o mesmo

pra toda e qualquer

gente

gente assim

que nem a gente

que tem o simples prazer

(às vezes a obrigação)

de ser gente

deixa pra lá

pra que obrigar?

ser gente já basta

ser, ouviu?

ter não

gente é

não tem

pra ser gente

não precisa de posses

só de essência

pura da gente

que é gente

que bom ser

dizer e viver como gente

super-gente ou sub-gente

não existe

devia ser pecado ou crime

pra ser super-gente

tem que ter muito

e pra ser sub–gente

tem que ter nada

ter muito ou nada

nunca fez diferença

pra quem é gente

ser sim e assim

simplesmente

ser gente

eu e você

ele e ela

nós e vós

eles e elas

vocês

você e tu

só a gente

né, gente?
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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Diz que diz




Dizem que para ser feliz a gente só precisa do simples.
Mas o simples é muito complicado.

Dizem que para conseguir o equilíbrio a gente só precisa é acalmar a mente.
Mas fazer essa mente tagarela calar a boca é muito complicado.

Dizem muito, mas só não dizem como.
Parece simples... mas é complicado!




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COBRA









Vem,

vem,

linda se arrasta

Sinuosa

e brilhante

se afasta

Se enrosca,

se estira,

arma um bote

Dos dentes,

gotas de veneno

Do

olhar,

desafio à morte

Só,

em muitas

feroz,

voraz,

atroz

Elegante animal,

arrasta-se sem vergonha

Sem pernas,

braços,

pescoço

Apenas

os movimentos em “o”,

em “s”

Rápida,

ágil,

precisa

Não lhe faz falta

a falta de membros

Poderosa,

continua

a seguir mundo afora

Ou a entrar mato adentro

Ao subir

na árvore,

Enrola-se nos galhos

Disfarça-se nas plantas

E pára.

E olha.

E encara.

Da boca,

a língua bifurcada

Num entra e sai incessante

Interminável,

infinito

(até chegar ao seu finito)

Cor,

visgo

Na pele fria e áspera

Sensações,

pavor,

medo,

nojo

Resumidas numa única

picada

Num único contato

de carne com veneno

Tontura,

perdendo os sentidos

Prazer,

perigo, morte

Eis que vence a cobra

Cobra,

só,

muitas em uma

Venceu,

saiu no silêncio

Leva seu corpo sem membros

Pára

e

espera

a

próxima

vez.

































foto: http://cliffsmithoriginals.com/MainPages/Abstract_Paintings.html
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sábado, 16 de outubro de 2010

Mandamentos do amor próprio



Faça pelo outro aquilo que não vai te prejudicar.


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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Inexistentemente feliz

















Vivia em um mundo que não existia. Que ninguém via. Intangível e inimaginável por qualquer um. Era esse o seu porto seguro. E vivia só. Fora dele, não existia.


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À Bossa


como não gostar de bossa? da bossa?
seu jeitinho manso de falar
do pato, de um barquinho...
a mágoa de um desafinado
ou um samba único de uma nota só
você, você e eu, não importa
até um lobo mau entrou na história da Bossa
o jazz tupiniquim
não interessa
é sempre bossa, é sempre nova
é bossa nossa.
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