sábado, 17 de novembro de 2018

A cigarra e a formiga...de hoje. (versão conto)





- Nunca seja amiga de uma cigarra.
- E por que não?

E assim ouvia toda a história que sua mãe havia escutado da sua avó, que havia escutado da sua bisa que havia...

-  Que chata essa nossa vida, mãe!
- Vida chata, mas pelo menos é decente!
- Eu não sei se viver somente para ser decente vale tanto a pena...
- Como assim?
- A gente trabalha todos os dias, mãe! Nem no dia do trabalho a gente deixou de trabalhar! Eu acho a vida das cigarras muito mais divertida do que a nossa.
- É, mas quando chega o inverno...
- Já sei: elas ficam à nossa porta pedindo comida e casaco emprestado.
- A cigarra-mãe até hoje não devolveu as minhas luvas! Como eu vou fazer...
- ... para participar da colheita das folhas de outono!
- Se você sabe de tudo isso, por que fica perguntando as mesmas coisas?
- Porque só assim a gente pode parar um pouco o trabalho e descansar.

Mal terminou de falar e ouviu a voz de sua avó chamando.
- Vamos, meninas! Ao trabalho! Querem dar uma de cigarra e ficar levando a vida só na gaita?

E ninguém entendia o motivo dos seus apelos para trabalhar menos. Não que fosse preguiçosa, mas sempre que observava a família das cigarras, só ouvia risos e quase nenhum trabalho. Aliás, nenhum trabalho. As cigarras só se davam ao trabalho de tocar a gaita e pedir alguma coisa emprestada para as formigas.

- Ei, você sabe tocar gaita?
- Segundo a minha família, isso é coisa do demônio.
- Música? Música é coisa dos céus! Vem que eu te ensino.

E assim fez amizade com uma cigarra. Aprendeu a tocar gaita e começou a participar de algumas festas. Tudo por baixo do pano, ou melhor, da terra...

- Viu, minha filha, como o trabalho também faz a gente feliz?
- É sim, mãe. O trabalho é coisa dos céus!

E assim começou a levar uma vida de formiga durante a semana e de cigarra nos fins de semana.

- E aí, cigarra? Qual é a boa de hoje?
- Não sei, hoje estou um pouco cansada...

A cigarra? E desde quando viver de gaita cansou alguém?
Pois a formiguinha, cansada da vida que levava, resolveu assumir para todos que iria levar uma vida de cigarra: só na gaita. Um escândalo no formigueiro. E quando foi dar a boa notícia para a sua melhor amiga...

- Como assim ela foi para o outro lado?

Pois é, a cigarra, cansada da vida que levava, resolveu assumir para todos que tinha passado em um concurso público e iria levar uma vida de formiga: só trabalhando. Um escândalo no clã das cigarras.


(16/11/18)







(imagem https://goo.gl/images/7YRbLa)
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quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Coleção?



coleciono divas
exemplos
historias de vida
coleciono cantoras
atrizes
autoras
pintoras
poetas (Poetisa é uma ofensa!)
coleciono
mulheres que admiro
que invejo a vida que tiveram
pelo que lutaram
como amaram e como marcaram
a história
a memória
ou a vida de simples mortais
como eu
como você
que lê
vive de teoria
mas não pratica nada do que sonha
ou deseja
não rompe e não quebra nada para ser feliz
se conforma e chama isso de vida
cansada de pessoas como você
e como eu
que só vive o que nos mandam viver
é que coleciono divas
que fizeram
disseram
romperam
viveram
do seu jeito
admirar pessoas assim
faz até eu me sentir corajosa














(imagem https://goo.gl/images/EvP6Y8)




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domingo, 4 de novembro de 2018

Progresso com Torradas






-    É a tecnologia!
Tudo havia começado pela manhã, na hora do café, por causa de uma torradinha que saiu queimada. Lucila não admitia que no microondas as torradas pudessem sair melhor do que no forno convencional, era contra esse tipo de “modernidade inútil”, mas Maurino discordava plenamente, aliás, desde quando “a modernidade poderia ser inútil?”, pensava ele. E a discussão se estendeu por todo o dia, passando pelo almoço, entrando tarde a dentro...
-    Não posso entender como as pessoas ficam inertes a invasão dessa tecnologia que só faz complicar, atrasar... E tem mais, além de muito cara, é, geralmente, em inglês ou japonês, vê-se logo que não foi feita para todo “o” mundo. Resumindo, a tecnologia é seletiva.
-    Deixe de bobagem, mulher, parece discurso de líder estudantil! Se a tecnologia foi feita para melhorar, facilitar a nossa vida, como ela pode ser inútil? Quanto ao fato dela não ser para todos...
-    Não é mesmo e pronto! – levantou-se para atender o telefone.
Maurino suspirou e voltou a ler o jornal.
-    Oi, mamãe? Tudo bem? Maurino? Está ótimo! Melhorou, fiz aquele chá... Se bem que ele nem queria tomar, disse que achava melhor aquele remédio moderno dos Estados Unidos... E Julinha? Manda um beijo pra ela. Tá, tá bom. Certo.Outro pra senhora.
E quando colocava o telefone no gancho, foi atacada por uma rajada de perguntas.
-    Quem disse que eu não queria tomar o chá? E que remédio dos Estado Unidos é esse? Aquele remédio é da Inglaterra, caríssimo, feito nos mais modernos laboratórios de Londres e...
-    E que não funcionou nenhuma, pois foi graças ao chá de mamãe que você conseguiu dormir.
-    Tá, Lucila, eu desisto de discutir com você! Até porque eu não aguento mais escutar esses disparates contra a melhor virtude da humanidade: a tecnologia.
-    Que melhor virtude da humanidade o quê, Maurino? Agora  quem está falando como um líder de estudantil é você.
-    Lucila, quando eu falei da torrada...
-    Torrada? Eu já até esqueci da torrada, Alberto!
-    Alberto? – perguntou o marido desconfiado
-    Que Alberto? Quem disse Alberto? Eu disse Mau-ri-no.
-    Não foi o meu nome que eu escutei, Lucila. Quem é esse tal de Alberto? – indagou o marido, alterando a voz.
-    Não sei! É tudo por causa dessa tecnologia!
-    Não, não é, pois nós já não estávamos mais discutindo sobre “essa tecnologia” quando você trocou o meu nome.
-    Olhe, vamos parar com isso, que eu não estou gostando...
-    Quem não está gostando sou eu! Primeiro você desfaz da tecnologia, depois me joga contra a sua mãe e, por fim, me chama de Alberto? Quem é esse tal de Alberto, Lucila?
Percebendo que seria impossível fazer o marido acreditar numa simples resposta do tipo, “é o namorado da Julinha”ou “é aquele ator da novela das seis...”, Lucila pensou em contar a verdade. Já não podia mais enganar o marido, um dia ele iria descobrir ou alguém contaria para ele e poderia ser muito pior...
-    Vamos, Lucila, estou esperando. Responda logo, nada de ficar procurando uma desculpa farrapo de esfarrapada. Quem é esse tal de Alberto?
-    Eu...eu não sei, pronto! Será que ninguém pode se enganar e trocar um nome? E se um dia você me chamar de Luzia? Eu vou brigar com você por causa de um nome? Isso é infantil, não tem cabimento!
-    Não tem cabimento é você ficar me enrolando desse jeito para responder a minha pergunta. Logo você que é tão rápida nas respostas.
-    Sim, mas...
-    Vamos, Lucila! É a última vez que te pergunto – disse aproximando-se da esposa - quem é esse tal de Jorge?
-    Jorge? – perguntou Lucila assustada
-    Quem disse Jorge? Eu disse Al-ber-to.
-    Não, você falou Jorge! Eu ouvi! Não sou surda e nem tente me fazer de burra.
-    E desde quando eu conheço algum Jorge? Lucila, você está invertendo a situação. Pois eu não vou aceitar isso não. Quem é esse tal de Alberto? – perguntou Maurino, tentando fugir dos olhos investigativos de sua mulher.
-    Quem está invertendo a situação é você. Quem é esse tal de Jorge, Maurino?
Os dois estavam mentindo e tentando se sair da melhor maneira possível, mas chegaram ao ponto que ou alguém contava a verdade ou o casamento de vinte anos e dois filhos chegaria ao fim. Já passava das sete horas da noite e a discussão, que começara no café da manhã por causa da torradinha queimada, continuava firme. E Lucila sentiu mais uma vez que tinha razão, pois se não fosse aquela “bendita tecnologia”, seu casamento não estaria em perigo.
Oito, nove, dez horas da noite, Lucila resolveu se entregar:
-    Está bom, Maurino. Você venceu. Eu conto a verdade. Não sei o que você vai pensar depois disso, talvez você nunca mais acredite em mim, nas minhas opiniões...E isso é o que mais me dói. Alberto é...é...
      As palavras se batiam dentro de sua boca, mas nenhuma se atrevia a sair.
      - Sim? É...
      E que Deus (ou a tecnologia) a protegesse, mas Lucila confessou:
-     ...é o nome do meu professor de informática! Pronto, contei! Eu sempre tive vontade de mexer com computador, lidar com essa tecnologia toda, mas eu tinha vergonha de assumir isso, então eu preferi atacá-la. Até que resolvi tomar coragem e me matricular nesse curso de informática. Mas se eu contasse isso a você, estaria dando o braço a torcer, era o mesmo que aceitar que você estava certo e eu não admito perder numa discussão, você sabe disso.
-    Então quer dizer que todo esse ódio pela tecnologia era simplesmente para disfarçar a sua tecnológica ignorância? Oh, meu bem! Na verdade, você é tão a favor dela...
-    Quanto você, ou até mais. Entretanto, como falar de algo que eu não conhecia? Era melhor desprezá-lo do que assumir a “minha tecnológica ignorância” como você disse. E assim que eu ficasse craque, eu poderia mudar de idéia sem precisar passar vergonha.
-    Lucila, eu não estou pensando nada de você; até porque o que eu tenho para lhe dizer não é tão simples assim. Talvez você não venha a acreditar ou mesmo respeitar as minhas opiniões que, você sabe, são tudo pra mim. Bem, Jorge, ele... ele é...
      Pobre Maurino, parecia sofrer do mesmo mal que Lucila: a dificuldade de assumir a verdade, sentia na boca as palavras em desordem, sua mente estava a beira de um ataque de nada, pois nada se formara até aquele exato momento, o momento de...
      - Confesse, Maurino. Ele é...
         - Um amigo de longas datas...
         - E?
         - ... o dono do antiquário e um sebo dos quais eu sou freguês há muito tempo. Eu nunca fui a favor dessa tecnologia que invade nossa vida sem pedir licença, sem se identificar ou pelo menos apresentar o CPF. Sempre preferi às coisas antigas, os filmes, os móveis, as roupas, tudo. Contudo meu trabalho me obrigou a lidar com ela, a tecnologia. Todos os dias eu era obrigado a estudá-la a fundo, então, para aceitar melhor essa situação, resolvi criar uma imagem de homem do futuro, adepto do progresso das máquinas. Além do mais, eu não poderia dar o braço a torcer ou um dedo que fosse de que você estava certa já que a minha posição, apesar de não ser verdadeira, era pró-tecnologia.
-    Meu Deus, quanta bobagem tecnológica!
-    É, bobagem que quase deu um fim ao nosso casamento.
-    Imagina se eu iria deixar que isso acontecesse.
-    Então... vamos esquecer tudo isso e vamos comer alguma coisa que eu estou morrendo de fome.
-    O que poderia ser?
-    Quem sabe uma torradinha queimada no micro-ondas? -perguntou  Maurino abraçando a esposa.
-    Ai, essa tecnologia... – suspirou Lucila, abraçando o marido de volta.
E assim passaram o resto da noite: comendo torradas, rindo da discussão e usando os efeitos tecnológicos da mente para relembrarem os melhores momentos.

(04/08/02)













(imagem https://mymodernmet.com/toasteroid-app-design/)
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sábado, 3 de novembro de 2018

"Teorias" óbvias de crime.








- Olha lá, ele é um assassino confesso. Então ele confessou.
- E se ele é um assassino é porque ele matou.
- E tem mais, se ele matou é porque alguém morreu.
- Ou perdeu a vida.
- Perdeu não, lhe tiraram a vida.
- Sim, verdade. E foi o assassino quem lhe tirou a vida porque foi ele quem matou.
- E assassino confesso porque ele confessou.





(03/11/18)
















(imagem https://www.dreamstime.com/stock-photography-criminal-confession-image19717552)

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quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Um certo clichê...











- E por quê  esse nome americanizado se você é brasileiro?
E o grupo de meninos começava a rir de Paul que , em vão e pela milésima vez, tentava explicar a mesma história.
- É que tinha um cantor de ópera que meu pai...
Não adiantava. Paul era a piada do dia... todos os dias... todo os anos de sua vida escolar.
O melhor momento era voltar para casa e ouvir ópera, um hábito que seu pai lhe deixou antes de sair de casa para nunca mais voltar.
- Paul, saia logo desse banheiro e deixe de tanto grito.
Reclamava a mãe das suas tentativas de ser um tenor. Escutava ópera todos os dias, cantarolava no caminho da escola.

- Paul Pó-Pó... O quê mesmo?
 Começou a trabalhar e também era a piada do dia no escritório. O jeito era continuar com os velhos hábitos:  escutar óperas todos os dias e cantarolar até o dia em que resolveu tomar  coragem e começar um curso de canto.
- Paul, sua voz vai te levar muito longe.
 Era o único lugar onde se sentia alguém, onde não era a piada do escritório e seus “gritos” não incomodavam.
- Vou te inscrever em um concurso para tenores.
- Não, professor, por favor, não. Eu faço essas aulas de canto escondido.
E foi para casa sonhando com a chance que acabara de jogar fora...

Uma semana depois, recebe um email confirmando a sua inscrição.
- Como assim? Eu disse que eu não queria.
Seus olhos diziam outra coisa e foi a eles que o seu professor resolveu ouvir...
- Você não entende, eles vão acabar comigo no escritório, meus vizinhos vão rir de mim...
- E o mundo vai se curvar aos seus pés quando você começar a cantar.
O mundo que Paul conhecia nunca iria se curvar aos seus pés, no máximo pisar neles. E o seu medo falou mais alto que a sua vontade. Não participou do concurso e, de quebra, não voltou mais para as aulas de canto.

- Por que você anda tão calado esses dias, meu filho?
- Nada não, mãe. Problemas no trabalho.
- Eu nem te escuto mais cantando no banheiro.
- É que como eu sei que a senhora não gosta...
-Quem disse? Eu gosto sim. Eu só achava que era um pouco alto e os vizinhos podiam reclamar.
Agora era tarde. Paul já tinha deixado de lado esse negócio de “gritar” e seguiu com a sua vidinha de “piada do dia”. E cada vez falando menos, comendo menos, vivendo menos...
- Paul! O que houve com você?
- Oi, professor. Desculpa, mas não tive coragem de voltar...
Já haviam- se passado dois anos desde que Paul abandonara o curso.
- Paul, o mundo continua a sua espera.
Por mais que não quisesse admitir, ópera era a sua vida e sem ela...
- Você vai morrer aos poucos, Paul.
O professor via em Paul algo que nem mesmo o próprio conseguia enxergar.

- Você voltou para as aulas de canto, meu filho?
- Mãe? Como?
- A gente sabe, mãe sempre sabe. Você voltou a sorrir, a viver...
Então resolveu se inscrever em um concurso de cantores. Agora não tinha mais por que ter medo.

- Gente, o  Paul Pó-Pó-Pó  agora virou tenor. Não é mais americano não, é italiano.
E antes que os seus colegas começassem a rir, Paul cantou um pedaço de La traviata. Silêncio. Paul saiu e nunca mais voltou.
- Não vou ser piada para mais ninguém.
Seguia confiante e  feliz, parecia que o mundo realmente  iria se curvar a seus pés...  Parecia?
- Mas como assim?
- Não sei, Paul,foi muito rápido. Ele se sentiu mal, chamamos a ambulância...
Chegou ao hospital a tempo de ver o seu professor ser levado para a sala de cirurgia. Será que ao invés de se curvar, o  mundo resolveu desmoronar? Não sabia para onde ir e nem o que fazer, não se movia, seus olhos continuavam presos a porta da sala de emergência.
- Paul Potts, por favor?
- É ele. Quem é?
- Eu sou produtora do programa ...
Como que adivinhando o que poderia acontecer, o professor gravou um ensaio de Paul sem que ele soubesse e enviou para o maior programa de show talentos do país: seu vídeo tinha sido selecionado.
- Não posso, mãe. Não posso fazer isso sozinho.
- Ele te devolveu a vida com a ópera. Faça o mesmo por ele.

O professor  estava dormindo, cheio de tubos.
- Ainda não sei como, mas vou achar uma maneira de fazer o mundo se curvar aos meus pés e vamos celebrar quando o senhor sair daqui

Na plateia a mãe, na mente o professor e na garganta um aperto que parecia sufocar. Não dava mais tempo para fugir, chegou a sua vez, já estava entrando no palco quando, como num milagre, avistou seu pai na plateia. Um misto de raiva e gratidão, afinal, foi ele quem havia lhe apresentado a ópera.
- O que você vai cantar para a gente? – perguntou um dos jurados.
- Eu...eu...
- Você vem para um show de talentos sem saber o que vai fazer? – perguntou o outro jurado em um tom de ironia fazendo algumas pessoas da plateia rir.
Paul conhecia aquele som, o som do escárnio, aquele que teve que aguentar por muitos anos. Deu a primeira nota com tanta força que calou toda a plateia. A partir dali, seguiu cantando sem dar tempo nem de colocarem a melodia. Olhava para a plateia em tom de desafio e cantava cada vez mais alto, mais alto, mais alto até a última nota. Os jurados não esboçavam nenhuma reação e toda a plateia em silencio.  Alguns segundos depois, uma enxurrada de aplausos invadia todo o lugar, os jurados estavam de pé e seus pais abraçados, entre lágrimas e risos. Pensou no professor, o mundo se curvou aos seus pés.

- E aqui está o vencedor do nosso programa, Paul Potts. Como você se sente?
Tantas pessoas ao seu redor, luzes, flashes, mal conseguia andar com tanta gente a sua volta. Tudo que queria naquele momento era abraçar os três responsáveis por aquele momento. Entretanto, ter o mundo aos seus pés tinha um preço: deixaram o professor assistir ao programa no hospital e ele não resistiu à emoção.
- Nós conseguimos!
Deixou uma flor sobre o túmulo e foi direto para um estúdio gravar o seu primeiro CD.
(25/09/18)









(imagem https://www.marianuniversitysabre.com/832/news/become-more-involved-on-marian-campus-through-marians-got-talent/)



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quarta-feira, 19 de setembro de 2018

¿Té o no té?








La yerba mate tenía un sueño: ser comediante. Su vida era muy aburrida. Además, sentía mucho calor en el agua caliente y tenía miedo de coger un resfriado en el agua fría . 
Era inútil tener más beneficios que cualquier otra yerba, ya que su fin sería en una taza de porcelana china. No, eso no. Iba a ser comediante.

- ¡Cueste lo que cueste!

Decía mientras se acercaba a las hojas de cañamo.

- Estas sí que saben hacer reír a la gente.





(18/09/18)


















(imagem: https://www.123rf.com/photo_66710902_stock-illustration-yerba-mate-tea-in-gourd-and-straw-and-floral-wave-doodle-pattern-isolated-on-white-background-hand-d.html)









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