domingo, 25 de dezembro de 2016

Surpresas






E assim tinha passado o natal... Na manhã seguinte, a mesa ainda posta, as frutas já amareladas e algumas formigas passeando ao redor do açucareiro. Não lembrava de mais nada... Se despediu do último convidado, sentou no sofá e quando deu por si, o sol já estava invadindo a sala, juntamente com aquele calor insuportável do meio dia. 
Levantar? Não via nenhum motivo para isso, mas também não estava muito confortável na posição que escolhera para dormir. A coluna incomodava e o braço direito estava dormente. Sabia que precisava levantar...
O telefone tocou. Olhava para aquele ser barulhento, gritando por atenção e, ainda assim, não se sentiu tentado a sair daquele estado de dor, dormência e preguiça em que se encontrava. E se dormisse mais um pouco? O calor não deixava. Desde pequeno não suportava o calor, sofria com brotoejas, suor e até falta de ar.
Calor, dormência,  preguiça... e a lista de motivos para não levantar só aumentava. O que havia comido ou bebido na noite anterior que poderia ter tomado todas as suas forças? Naquela situação, morrer era até mais fácil do que viver. Pelo menos não precisaria se levantar.
Começou a ouvir o barulho vindo da rua: parecia que o mundo, menos preguiçoso do que ele, se levantava ao seu redor. Ele, covarde ou bravamente, não conseguia fazer o mesmo. E o que fazer então? Gritar por ajuda? Esperar por ninguém? 
O telefone tocou novamente.  O fim da sua agonia? E mais uma vez mirou o ser barulhento sem nenhuma intenção de fazê-lo calar. 
Suava, já deveria estar com o pescoço tomado por brotoejas... Pensou na sua mãe. Entretanto, mamãe morava há alguns dias de viagem dali e não chegaria a tempo para salvá-lo, assim como fazia quando era pequeno e, a qualquer grito, mamãe aparecia no quarto para acalmá-lo.
Alguém bateu à porta. Era melhor que arrombasse, colocasse aquela porta abaixo e o viesse socorrer. Seria mamãe fazendo uma surpresa de fim de ano? Não, mamãe detestava surpresas, mais ainda as de fim de ano. 
E bateram à porta outra vez. Tentou dizer algo, mas a boca não se abria. Que inferno estava acontecendo? Sonhando não estava, tinha certeza que havia acordado...

- O senhor vai receber alta hoje.

Entrou um homem vestido de branco, seguido por uma mulher vestida com a  mesma cor.
- Te trouxeram a tempo. Daqui a pouco volto para te liberar. Já tem gente aí fora te esperando.

E abriu a porta. A mãe entrou e começou a beijar-lhe a cabeça. Teve uma forte dor no peito na noite anterior e a festa de Natal terminou na emergência.  

- Meu filho! Como foi que isso aconteceu?

Mamãe veio ao seu socorro e não havia nenhum monstro debaixo da cama. Agora sim, poderia dormir mais tranquilo.





(25/12/16)













(imagem https://goo.gl/images/YVfV5Y)


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sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Mandamentos do Amor Próprio





Quando acreditamos e valorizamos somente o que o outro fala, tiramos a nossa autoestima para estimar a dos outros...


(http://www.photl.com/236994.html)




(23/12/16)


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A maldição do bom dia




Descia as escadas do edifício apressadamente. Estava atrasado e tinha acordado com muito mau humor. Não queria encontrar ninguém no elevador e ser obrigado a dar bom dia seguido de um sorriso forçado. Os pensamentos da noite anterior não o deixaram chegar perto da cama. Cigarro, leitura, televisão, internet... nada conseguiu expulsar todas aquelas imagens da sua cabeça, as discussões, as palavras que deveriam ser ditas e não foram... Um comprimido, talvez? Não, teve medo de não acordar no horário do dia seguinte. Resultado: sem o comprimido, perdeu não só uma boa noite de sono como a tão planejada hora certa, hora de chegar, de resolver tudo aquilo que não lhe deixara deitar a cabeça no travesseiro e dormir.

Seu vizinho de porta  teve a mesma ideia e também resolveu descer pelas escadas. Sentiu-se perseguido e começou a correr, descer quase que escorregando pelos degraus, começou a suar e seu coração acelerou. Para onde corria? De quem corria? Por que corria? Não teve tempo de responder: tropeçou no carpete que se encontrava logo abaixo do último degrau e foi ao chão sem ter tempo de se segurar. Desfaleceu com a pancada e, quando acordou, estava rodeado por um monte de pessoas, pessoas que ele havia evitado encontrar no seu caminho para o trabalho. Foi ajudado por algumas delas, obrigado a sorrir, agradecer a gentileza e, ao olhar o relógio, ter a certeza de que por causa delas, havia perdido a reunião. Odiava perder. Entretanto, de uma só vez, havia perdido a noite, a hora e o seu direito de permanecer em silêncio a fim de desfrutar o seu mau humor. 


(https://ednene.files.wordpress.com/2011/09/mauhumor.jpg)


(23/12/16)
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