A maldição do bom dia
Descia as escadas do edifício apressadamente.
Estava atrasado e tinha acordado com muito mau humor. Não queria encontrar ninguém no
elevador e ser obrigado a dar bom dia seguido de um sorriso forçado. Os
pensamentos da noite anterior não o deixaram chegar perto da cama. Cigarro,
leitura, televisão, internet... nada conseguiu expulsar todas aquelas imagens da
sua cabeça, as discussões, as palavras que deveriam ser ditas e não foram... Um
comprimido, talvez? Não, teve medo de não acordar no horário do dia seguinte.
Resultado: sem o comprimido, perdeu não só uma boa noite de sono como a tão
planejada hora certa, hora de chegar, de resolver tudo aquilo que não lhe
deixara deitar a cabeça no travesseiro e dormir.
Seu vizinho de porta teve
a mesma ideia e também resolveu descer pelas escadas. Sentiu-se perseguido e
começou a correr, descer quase que escorregando pelos degraus, começou a suar e
seu coração acelerou. Para onde corria? De quem corria? Por que corria? Não
teve tempo de responder: tropeçou no carpete que se encontrava logo abaixo do
último degrau e foi ao chão sem ter tempo de se segurar. Desfaleceu com a pancada
e, quando acordou, estava rodeado por um monte de pessoas, pessoas que ele havia
evitado encontrar no seu caminho para o trabalho. Foi ajudado por algumas
delas, obrigado a sorrir, agradecer a gentileza e, ao olhar o relógio, ter a
certeza de que por causa delas, havia perdido a reunião. Odiava perder. Entretanto,
de uma só vez, havia perdido a noite, a hora e o seu direito de permanecer em
silêncio a fim de desfrutar o seu mau humor.
(https://ednene.files.wordpress.com/2011/09/mauhumor.jpg) |
(23/12/16)
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