sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Quase anjo



"Meu sonho? É ser feliz.”

E atirou-se da montanha,
acreditando que lhe surgiriam asas.





(24/01/10)
































































































































































































































































































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quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Eles é quem são felizes?













Alguém já pensou o quanto pensamos para formar um pensamento?
Pensamos porque queremos, porque podemos ou porque devemos?

Sabe como é: para fazer jus ao nosso título de animais racionais...


Alguém já pensou em amanhecer um dia com a cabeça livre de pensamentos?
Sem o peso do título de “mais racionais” de todas as espécies?¹

Eu já.

Seríamos como os outros animais.
E, aparentemente, me parecem muito felizes.
Será que progresso em excesso causa dor de cabeça?


¹ E eu ainda tenho minhas dúvidas quanto a isso...



(20/01/10)



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terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Tanto...


Tanto para se ver ou imaginar


daquela
pequena
janela
redonda


Sempre mostrando o mar


como
um
quadro


Mar e céu se encontram

estáticos

se tocam

É tudo o que se pode ver da janela

O “tanto” é só para imaginar.



(22/01/10)



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Sete dias e sete noites naquela escuridão. Sufocado, sufocante... Solidão... Silêncio total.



Só, somente e apenas o som do coração. Rápido, bombardeando uma enchente de sangue veias abaixo.


Sem noção dos dias (que eram curtos) e das noites (que eram longas) tinha como seu companheiro o medo e, às vezes, o desespero.


Sem suportar a pressão, uma idéia em forma de luz e depois a decisão. Do outro lado da linha, uma voz feminina:


- Como quiser, senhor.


E mudou-se para um quarto maior com sete janelas.



(18/01/10)
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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Universalmente estúpido e raras exceções...





Segundo Einstein,



(se realmente foi o próprio que isso afirmou)


O universo é do tamanho da estupidez humana


 
Claro que não foi exatamente isso que ele disse



E de acordo com a minha interpretação, foi isso que ele quis dizer.

Em outras palavras



(as minhas, é claro)


Nossa idiotice é infinita


Isso para aqueles que acreditam que idiotice e estupidez são da mesma família.


Para aqueles que não, bem, nada em minha defesa.


 
Eu poderia discordar dele, não?



Contudo, fazendo um 360º reflexivo, lembrei do preconceito


da guerra,


das drogas,


da corrupção (sempre acompanhada de perda de memória e reeleição),


da violência


e do pouco caso que é feito com a saúde da Mãe Terra...


 
É, meu caro Albert,



se foi você mesmo quem disse aquilo que eu li na revista,


eu queria apenas pedir, humildemente, licença para retificar algo:


o universo é muito menor que a estupidez humana

E agora te dou a palavra...

“Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana”
                                                                                        Albert Einstein
(16/01/10)


 
 
 
Origem da imagem: http://indigestus.zip.net/images/einstein.jpg
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sábado, 16 de janeiro de 2010

AVERSÃO NUMÉRICA











Deixem-me só com as letras, apenas elas! Fora com os números!



Do seu Universo, para mim, uma única incógnita: a ignorância.


Não, não quero ver nenhuma espécie de número, expressão numérica ou cálculo


Mesmo que seja para comprovar que dois e dois são vinte e dois






Que venham as letras! Que se juntem em palavras!


E venham em grandes famílias de frases!






Organizem-se, minha amigas! E venham em versos! Contudo, esqueçam a métrica


Métrica me lembra MATEMÁTICA. E desta nada me interessa






Fecho os olhos, rasgo a tabuada, desligo a máquina de calcular


Viverei (e muito bem) sem contabilidade, sem álgebra






Se necessário for deixo de contar as nuvens e estrelas do céu


Os barquinhos e canoas no mar, as colorias e pequeninas flores do campo


Mas nunca, e juro, nunca mais irei... CONTAR, SOMAR, MULTIPLICAR






Ninguém nada entende e isso já me basta


Para que não me venham atormentar com perguntas


Numa ordem irritantemente numérica






Fora com os números e todos os seus valores “valorizados”! É tudo que peço.


A quem não sei, mas peço.






Contar, só histórias.


Expressões, só as de amor como “Eu te amo”.


E não precisam ser dois para isto dizer, afinal o dois é...Já sabe.


Apenas um.


Pois, para mim, um é artigo indefinido. Não um (Argh!) numeral.

(23/06/00)


 
 
Origem da imagen: http://www.superiorsilkscreen.com/upfiles/cart/hate_math.gif
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quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

BLÁ INTELECTUAL













Acho engraçado ver os críticos de arte, literatura e companhia fazendo inferências mil a cerca de obras cujos autores nem pensaram ou ao menos imaginaram transmitir aquilo que disseram que eles quiseram transmitir quando as fizeram.


E lá vão os críticos, com seus óculos de grau modelo “sou um intelectual”, usando e abusando da sua arrogância, acompanhados de um ego com 3 metros de altura e um vocabulário complexo ou, como diriam eles, “rebuscado”, mas, como eu diria, incoerentemente incompreensível!



E começam a falar de arte, literatura,enfim, cultura para poucos (talvez, para raros) e as obras ali, coitadas, paradas, sem poder dizer “Eu não fui feita assim!” ou “Não me escreveram dessa forma!” ou “Fui esculpida sem a intenção de...”



E eles lá, se deliciando com o seu blá-blá-blá abstrato e “insubstancial”, se afundando em teorias e explicações infinitamente vazias. Aquelas do tipo sanduíche natural: coisa nenhuma com nada dentro. Que em nada têm a ver com a intenção dos artistas e suas criações que, por sua vez, apenas sentiram a inspiração, fizeram o algo deles e pronto (Viu? Nem doeu!).


Não há o porquê de tantos “parapeques lexicais”!
Parapeques lexicais? É, preciso ir antes que eu seja “abençoada” pelo dom de blá-blar no vácuo sobre aquilo que não sei se foi assim, assado, cozido ou temperado...

(22/03/03)


 
Origem da imagem: http://papel.deparede.com.br/animais/cachorro-de-oculos/

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Terra, minha “forever”









De minha terra pra outra terra
Como Gonçalves Dias fazia
Chorar a saudade do seu tempero, seu clima, sua alegria

Seus problemas viram virtudes
Tudo feio nas outras terras
Na minha só tem bonito
Mesmo que só eu veja assim
É assim que vejo
É assim que amo
É assim que sentirei falta da minha terra
Quando estivar na terra alheia
Que nunca será minha
Apenas passageira (e estrangeira)

Um lugar para sentir saudades da minha terra
Que tem palmeiras, flamengo, botafogo...
E onde canta o sabiá, Roberto Carlos, Maria Bethânia...

Te amo, verde e amarelo!
Cores minhas
Cores de brasileiro
Cor de gente brasileira
Gente colorida
Negra, branca,índia,verde e amarela
Arco-íris étnico

Sentirei muito o meu pedacinho daqui
As minhas pessoas daqui
E viverei lá
Como não sei
Pois na bagagem só levarei roupa
O coração disse que não vai comigo
E junto com meus pensamentos aqui vão ficar

Nesse lugar que vou e não tardo a voltar
Voltar pra minha terra
Que tem muitas palmeiras
Tem muitos Gonçalves, Castros Alves e sabiás

(27/03/04)






Origem da imagem: http://pbrasil.wordpress.com/2009/07/
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terça-feira, 12 de janeiro de 2010

SÍNDROME DO TIC-TAC


Estamos vivendo no tempo da falta de tempo


Não dá tempo pra comer

Não dá tempo pra dormir

Não dá tempo pra falar

Ler, estudar ou até mesmo respirar

Namorar e amar? Fora de cogitação

Precisamos ganhar tempo

Ganhar do tempo

Correr atrás dele a todo o momento (que gracinha, rimou)

Saber aproveitar o tempo que temos

Para economizar o nosso tempo

Assim, teremos mais tempo para ganhar tempo

Não podemos perder tempo

Custa caro, custa dinheiro!

E, o pior, custa tempo.

Ah, tempo, passamos a vida inteira

correndo atrás de você

Quando te alcançamos,

Não sabemos mais o que fazer da vida

Tic-tac, tic-tac tenho que terminar, tic-tac, tic-tac, o tempo está passando tic-tac, tic-tac...


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São Jorge Amado dos Ilhéus



Jorge Amado que tanto amou


Bahia de Todos os Santos

Que tanto amou


Iansã, Iemanjá, Ogum...

Que tanto amou

Literatura

Que tanto amou


Vatapá, caruru, cocada...

Que tanto amou

O mar...

De tudo, o que Amado mais amou


Foi Zélia

Mas também nos fez amar Gabriela, Tiêta, Dona Flor

Fez o mundo amar sua “Pátria Nordestina”



Sentir o cheiro achocolatado do cacau


E o vento salgado de maresia


Só Jorge fazia, só Jorge escrevia...


Descansa, velho marinheiro


Chora, velha Bahia


(07/08/01)
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Mentego (a idéia fixa)

Cenário perfeito: falta de sono, duas da manhã, silêncio de monastério, uma tela de computador, meus óculos a La Vinícius de Moraes e a minha mente, totalmente vazia. Quase totalmente. Nela uma única idéia: tenho que escrever algo antes de dormir. Eu posso até não gostar do que vou escrever, mas com certeza alguém poderá ler, um louco poderá gostar e um totalmente insano poderá até publicar. Entretanto é melhor não salvar o texto agora e tentar terminar. Eu salvo no meio da produção, não gosto e o texto se torna mais um arquivo com um nome estranho dentro de uma pasta “para terminar” e que nunca será terminado.

Já passei do primeiro parágrafo e confesso que a idéia continua a mesma: tenho que escrever. Saber o quê, já seria um milagre. Acho que é a medicação da gripe que estou tomando... Daqui a pouco bate duas e eu não fiz nada e ainda tenho que tomar mais medicação. Gripe chata, minha única companhia a essa hora da madrugada.

Quem sabe se eu futucar algum site? Nossa! Não teve nada a ver terminar um parágrafo falando de gripe e logo depois começar o outro com essa frase e ainda mais usando o termo “futucar”. De onde foi que eu tirei isso, meu Deus? Futucar um site? Que pérola de frase, totalmente upgrade com a tecnologia, no mínimo terei que procurar uma vara virtual para futucar melhor. Iiiih, se isso foi a intenção de ser uma piada, esqueça. Eu não riria nem por dentro. Ok, vamos ver o que posso fazer para terminar esse aqui... Pronto. Assim.

Já cheguei ao terceiro, olho o relógio e... Não, não vou informar a hora, pra que a pessoa que vai ler o meu texto precisa saber da hora? Quem tem que saber a hora de tomar o remédio na hora certa sou eu. E pronto. Fim de papo. E de parágrafo também.

Uau, esse foi bem curto. Deveria salvar, não? Poxa, já usei mais do que meia página em 10 minutos! Hum, acho que não vou colocar este no “para terminar”. Bem, na dúvida, continuo. Agora com pausa para tomar o remédio.
..........................................................................................................................

Será que os pontinhos acima convenceram como pausa? Calma, eu só estou ensaiando, ainda não é pausa para valer. Quando for é óbvio que eu avisarei. Não vou sair do nada e deixar a pessoa que está lendo o meu texto perdida. Vou sair agora. Pausa.
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..........................................................................................................................


Poxa, precisou de mais pontinhos do que eu pensei. A pausa foi longa, mas a culpa foi do comprimido.Tenho medo de deixá-lo correr livre e solto pela minha garganta. Vai que ele resolva conhecer outras vias e eu morra asfixiada? Vou deixar um texto pelo meio, a minha mente com a idéia de ter de escrever algo e...não,não,não! Vai que meu espírito volte e fique vagando para terminar o texto? Vai que sem querer alguém (a pessoa que me encontrar morta) resolva dar ao texto um final mais infeliz que o meu mandando o coitado para a temível pasta “para terminar”? Aí ficamos nós dois sem paz: ele, o texto, sem um fim e eu querendo dar um fim a ele sem aceitar o meu fim. Alma penada? Eu? Nem que me depenem! Tenha pena de mim! Não, não mesmo. Fico na vigilância até o comprimido descer e chegar sã e salvo em alguma parte do meu estômago que fará conexão com a parte do corpo que está “assim,assim”.

Engraçado, depois de toda essa volta ao redor do comprimido que me tomou um parágrafo inteiro (e gigante!), me veio o seguinte pensamento: será que na verdade eu não queria escrever nada e tudo isso foi uma peça pregada pela minha mente só para eu não esquecer de tomar o meu remédio? Será que minha própria mente seria capaz de fazer isso comigo? Fazer com que eu perdesse parte da minha madrugada de sono para ficar zumbiando e me fazer acreditar que eu poderia escrever algo grandioso (que poderia até ser publicado pelo “totalmente insano” lá do início do texto) só para me lembrar de tomar o remédio? Não, isso é loucura. Achar que a minha mente está tramando contra mim mesma. Isso é definitivamente lou-cu-ra! Imaginar que a minha própria mente está tramando contra mim mesma?

Minha e mim mesma, na mesma frase? Que coisa mais egoísta! Acho que... Lógico! Egoísta, ego, foi ele! Meu ego me fez acreditar que a minha própria mente estava tramando contra mim para lembrar de tomar o meu remédio quando na verdade era ele que queria ser lembrado quando o “totalmente insano” publicasse esse texto que poderia ser algo grandioso deixado para a tal da posteridade. Como pode isso? Como é super, como se sente único, como é o ego egoísta!

Pois justo agora me ocorreu uma idéia, não para o texto, mas para comprovar a verdade. A verdade de que a mente é inocente nessa história, pelo menos nessa história desse texto que vos escrevo. Vos? Não sei se será mais de uma pessoa que vai ler, então, na dúvida, é melhor “desse texto que te escrevo”. A verdade, sim, a verdade! O ego quer me confundir para eu não falar sobre a verdade, já obtive a prova de sua culpa! Se realmente fosse a mente que estivesse por trás desse texto, eu teria terminado logo depois que tomasse o comprimido, visto que a intenção da minha mente era escrever algo para lembrar do meu remédio. Contudo, o texto continuou e os auto-elogios foram se sucedendo a tal ponto que ficou mais do que claramente óbvio que foi o ego, egoísta, super. Até jogo de palavras ele está usando para se disfarçar (como o fez no penúltimo período).

Tarde demais. Em ambos os sentidos: tarde demais. São mais de duas da manhã e vou mostrar ao ego que se ele é super, eu sou maravilha. E mulher! Junte os dois, querido ego, e veja o resultado. Se é que você conseguirá ver algo mais, pois o seu algo grandioso termina aqui mesmo e não darei tempo nem para tal do insano...

(24/03/07)







Origem da imagem:diannejohnson.com

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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Inocentes Sapatos Azuis


- Ah, esses sapatos azuis... - suspirava Pedro em frente à sapataria.

Todos os dias, antes de ir para o trabalho, Pedro parava diante da vitrine só para ficar admirando o sapato dos seus sonhos. O namoro tinha começado há alguns meses, logo que os sapatos chegaram à loja.

Já fazia parte da rotina de Pedro. Era como se todo dia ele tivesse que visitar um ente querido no hospital. Os vendedores da loja comentavam:
- Coitado, não tem dinheiro pra comprar os sapatos dos seus sonhos...
- Coitado nada. Ou ele é doido ou não tem o que fazer. Fica um tempão olhando os sapatos pela vitrine e nunca nem os experimentou.
- Daqui a pouco ele vai começar a espantar a freguesia.

Ninguém entendia o amor platônico que Pedro sentia por aqueles sapatos. Realmente, ele nunca os havia experimentado, mas não por falta de oportunidade, isso é que não. Talvez, para não perder o mistério, quebrar o encanto... Só quem ama entende essas coisas.

E não demorou muito tempo para Pedro virar o assunto principal do bairro:
- Você notou que o Pedro só anda de azul?
- Acho que é pra combinar com os sapatos.
- Por que ele não pinta os sapatos dele de azul?
- Porque ele vai ter que ficar o tempo todo olhando pra baixo.

Mas Pedro parecia não se incomodar com esses tipos de comentário. Para ele nada mais interessava: apenas o par de sapatos azuis. E todo dia, no mesmo horário, lá estava Pedro.

 O curioso é que, de repente, as vendas na loja de sapatos começaram a crescer. Todo mundo queria comprar na loja do “Pedro Vitrine”, como passou a ser chamado. Um dia, um freguês se atreveu a perguntar pelo preço dos sapatos azuis, pois estava pensando em levá-los...
- Não, senhor - bradou o gerente - estes sapatos são do Pedro Vitrine. O senhor pode levar qualquer outro par, menos esse.

As crianças passavam na rua e apontavam para Pedro como se ele fosse um super-herói.
- Olha lá, mamãe! Olha lá o Pedro Vitrine! Quando eu crescer, eu vou ser igual a ele.

Os adultos que no início viviam criticando e, às vezes, zombando de Pedro, agora admiravam o seu sentimento puro pelo par de sapatos, uma fidelidade eterna sem exigir nada em troca.

Pedro que, a essas alturas, já era notícia de jornal, também se tornara o modelo de homem ideal. Muitas pessoas  declaravam abertamente que gostariam de ter um namorado ou um marido igual ao Pedro:
- Ah, se meu namorado fosse tão apaixonado por mim como o Pedro é por aqueles sapatos...
- Ah, se o meu marido fosse tão fiel como o Pedro...
- Eu adoraria que o meu noivo tivesse a mesma pontualidade do Pedro...

Modelo de homem ideal, notícia de jornal, ídolo das crianças, nada disso abalava a rotina de Pedro que era de casa para loja, da loja para o trabalho e do trabalho para loja. Nos finais de semana, ficava o dia inteiro em frente à loja fechada. Não importava o quanto tivesse que esperar, queria ser o primeiro a ver os sapatos quando a loja abrisse.

Pedro chegou do trabalho cego de desejo para ver seu grande amor, não via mais nada, somente  a loja de sapatos do outro lado da calçada...

Foi atropelado por um caminhão azul. Morreu na hora. Dizem algumas testemunhas que suas últimas palavras foram “Ai, aqueles sapatos azuis”.

A morte de Pedro foi um grande choque para todos:
- O Pedro? Aquele dos sapatos azuis?
- Ele mesmo. Morreu atropelado em frente à loja.
- Ai, coitado, morreu sem realizar o seu sonho.
- Como eu vou contar isso para o meu filho?

E assim a notícia se espalhou rápido. Saiu até nos jornais. Cada manchete mais sensacionalista que a outra: “MORRE O POBRE PEDRO DOS SAPATOS AZUIS”, dizia uma.Na outra: “SEM SAPATOS SE FOI O POBRE PEDRO VITRINE”.

A consternação foi tão grande que a loja resolveu não abrir no dia do funeral de Pedro que foi digno de uma grande personalidade. Milhares de pessoas (muitas que nem chegaram a conhecê-lo pessoalmente), câmeras de TV, autoridades políticas... Foi um dos eventos do ano.

Na missa de sétimo dia, que já não foi tão badalada quanto o funeral, veio a bomba: Pedro fora assassinado.

- Mas como? O caminhoneiro não teve culpa.
- Mas o culpado não é o caminhoneiro. O par de sapatos azuis é o verdadeiro assassino.
- Ooooooh!- admiravam–se todos

E, acreditem ou não, após um mês da morte de Pedro, o par de sapatos azuis foi levado a julgamento para decidir qual seria o seu fim. No tribunal, foi colocado no banco dos réus e...

- Está aberta a sessão! Com a palavra, o promotor.

O promotor, um homem de mais ou menos quarenta anos, tinha a fama de nunca ter perdido um caso. Trajava neste dia, por ironia do destino, um suntuoso terno de cor azul.

- Senhoras, senhores, temos aqui, diante de nossos olhos, o caso de Pedro. Um homem simples e na vida cometeu um único erro: admirar estes sapatos. Um simples par de sapatos? Não. Mal sabia o pobre Pedro que estava admirando os seus futuros assassinos! De uma maneira fria, calculista e aproveitando-se de sua boa aparência, os sapatos seduziram a vítima, sugando todo o seu discernimento, anulando a sua vida social, enfim, transformando-o num indivíduo inerte, sem luz própria. E tudo isso para quê? Apenas para satisfazerem a sua vaidade, de serem admirados como os sapatos mais belos do mundo. Não lhe deram a mínima chance de defesa. A cada dia se tornavam mais e mais atraentes, hipnotizando-o para no fim matá-lo! CULPADOS! ELES SÃO CULPADOS! - alterou-se o promotor, causando um imenso tumulto entre os presentes.

- SILÊNCIO! - gritava o juiz – SILÊNCIO NO TRIBUNAL! ORDEM! ORDEM!

Após alguns gritos e marteladas, a situação foi controlada.



- Com a palavra, o advogado de defesa. – anunciou o juiz, secando o suor da testa.



Era um rapazola de vinte e poucos anos, que acabara de sair da faculdade. Advogado por profissão e poeta por convicção, vejam a sua defesa:
- Serei bem simples e claro para que todos possam  entender o que realmente está acontecendo aqui. Estes sapatos, considerados assassinos perigosos, não passam de protagonistas de uma bela história de amor. Não esse amor que presenciamos no nosso dia a dia, na casa do vizinho ou nas telas de cinema, não. O amor ao qual eu me refiro aqui é muito maior, muito mais forte, muito mais verdadeiro e, por isso, muito mais raro. Pedro, desde o dia em que conheceu este par de sapatos, não “anulou sua vida social”, como citou há pouco o meu caro colega de acusação. Pedro apenas anulou uma parte da sua vida que não lhe preenchia. Ele não deixou de viver por causa do amor, na verdade, ele viveu por amor, viveu para amar estes sapatos como nunca amaria ou seria amado por ninguém. O único crime que estes sapatos cometeram, senhores jurados, foi se tornarem a causa desse sentimento. Portanto, nós seremos os assassinos desta história se condenarmos estes pobres sapatos azuis ao terror de um cárcere! - concluiu o jovem advogado.



Antes mesmo de receber o veredicto, o juiz, numa atitude pouco convencional, declamou em alto e bom tom a seguinte sentença:
- Após a defesa aqui ouvida, eu, como autoridade máxima desse tribunal, declaro este par de sapatos azuis inocente!



- DROGA! – explodiu o promotor de terno azul, que aproveitou o momento do tumulto para sair despercebido.



Dentre aplausos e “vivas” que ecoaram por toda a sala, lágrimas dos presentes. A magia do amor parecia ter contagiado a todos. Os sapatos, por decisão unânime, foram colocados em cima do túmulo de Pedro. Na lápide, a seguinte frase: “Aqui jaz Pedro, o homem que mais amou”.



Tempos depois, alguém acrescentou “Aqui jaz Pedro, o homem que mais amou estes inocentes sapatos azuis".





(09/09/00)






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CORES









cores 1000

Um mil de cores mil

Mil cores de um mil de cores


Cores de mil de um mil cores de cores mil

 Mil


           Cores


                         De


                                  Um


                                           Mil


                                    De


                        Cores


                 Mil


Colorido


O


O


O



(21/01/07)
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Na nota do maestro







Samba de notas



Das notas de um samba



De uma, de duas, de muitas...



De uma nota



Uma nota acompanhada



Só é que ela não fica



E não fica e não pára



E dança que só



Para só não ficar



No samba para jobimar



No tom para sambar



A nota não pára



Não está só



Mas dança que só



Para só não ficar

                                                                        (21/01/07)




     


Origem da imagem: http://amorimcaturas.blogspot.com/2009/05/tom-jobim.html

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o DiFeReNtE





Enriquece, contribui, desenvolve, rompe e/ou quebra padrões e tabus há muitos anos endeusados. Seja atrapalhando, ou confundindo, ou o que quer que seja, o diferente é aquele que nos leva ao novo, ao “ainda” não pensando ou dito, ao que o medo de “arriscar" não permitiu que fosse feito.

O diferente é o convite ao agir, ao fazer, ao modificar, ao arriscar, ao criticar o que há muito nos parece certo, mas que já não funciona ou não se adapta mais ao contínuo movimento do tempo. Em outras palavras, ou até abusando da redundância, o diferente é o ponto de começo, o começo do processo, do processo essencial e totalmente enriquecedor à nossa (e digo nossa no termo mais abrangente da palavra) existência: ao processo da evolução.

O igual é importante para se criar padrões, coisas e atos que se assemelham a fim de organizar e regularizar o ambiente em que nos encontramos. Entretanto, após certo tempo, o igual não muda: se conforma, se contenta, tornando-se, assim, ultrapassado. Eis o momento da necessidade do novo, das novas tentativas, do impensável. É o processo da evolução querendo continuar, o igual ficou pequeno demais para suprir tanta necessidade do novo e evoluir é dar lugar ao novo nem que esse novo seja fruto da reciclagem do velho.


E é nesse momento de inquietação, de insatisfação, entre as brechas do conservadorismo e do apavorante sentimento da possível perda do conforto do “já estabelecido”, desafiando a temível força da resistência à mudança (ou leia-se pavor), surge o diferente, surge dos lugares imprevisíveis, sem hora marcada, sem regra ou padrão que o limite ou o defina. Aparece para fazer desaparecer tudo aquilo que possa impedir ou mutilar ou deformar ou empobrecer a nossa enriquecedora (para muitos, incomodante) capacidade de querer-ser-fazer diferente. Enfim, a nossa habilidade metamorfoseante que pulula dentro de nossas veias, permitindo-nos (excluindo os conservadores de plantão) encurtar o caminho para atingir o nosso maior objetivo: evoluir.
                                                                                                                               

                                                                                                                                
                                                                                                                                            
                                                                                                                                               (Dez/06)



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domingo, 10 de janeiro de 2010

A menina do quadro



Vivia uma vida adulta infeliz. Não gostava do mundo dos “crescidos” onde ter problemas era uma característica fundamental para fazer parte deste.

Os problemas eram diversos: no trabalho, no relacionamento, com a família, com os amigos (e também com os problemas destes). Uma infinidade sem solução. Quanto mais os tinha, mais “crescida” se tornava. Estava cansada de tudo, mas não tinha coragem de dizer o que sentia, de gritar ao mundo que estava farta dele.

Aliás, outra característica do mundo dos “crescidos”: para conviverem bem com os demais, têm que abrir mão de tudo (ou quase tudo) que pensam ou sentem, enfim, abrir mão de si mesmo. Cria-se uma máscara e a coloca todos os dias ao levantar-se, antes mesmo de ir ao banheiro lavar o rosto e se olhar no espelho. E assim, ao sair de casa,  passam aquela imagem de uma pessoa normal, talvez feliz. Se alguém se atrever a sair de casa sem a sua máscara, será considerado louco, anormal e por isso deve ser mantido longe dos demais.

A pessoa que se entrega ao uso da máscara, aos poucos, vai perdendo a sua essência e passa toda uma vida sem saber quem realmente é, tornando-se um ser que vive sempre de acordo com as regras do mundo, mesmo que discorde de todas elas. É o chamado “viver em sociedade”.

Depois de certo tempo, a pessoa já não sabe mais como viver de outro modo, ou seja, necessita da aprovação do mundo para fazer qualquer coisa, até mesmo para “ser feliz”.

Estava farta de tudo isso e lembrava com saudade da sua infância, de quando não precisava usar máscaras, de quando era permitido fazer e sentir tudo que quisesse, quando ainda tinha uma essência...

Toda a noite, antes de dormir, mirava o retrato dos seus quatro anos de idade e assim permanecia até que o sono chegasse. Não sonhava, ou pelo menos, não se lembrava de nada. Talvez com a perda da essência, havia também perdido a capacidade de sonhar. Como sentia falta da época em que se considerava uma pessoa de verdade e feliz.

E o que significava “ser feliz”? Não sabia. No seu mundo real não havia nada que se assemelhasse a algo que pudesse ser considerado felicidade, apenas as memórias de sua infância.

E toda a noite fazia a mesma coisa: deitava na cama, olhando o quadro, invejava a felicidade que já não conhecia e apreciava o retrato como se este fosse sua única esperança de não morrer sem poder dizer que havia sido feliz.

Dias, meses, alguns anos... O quadro havia se tornado uma obsessão.

Começou a viver seus dias de máscara com a certeza de que, no final da noite, poderia arrancá-la e aproveitar o único momento o qual considerava o seu ideal de felicidade: usar os minutos que antecediam o seu sono para olhar o quadro dos seus quatro anos.

Era uma manhã nublada e fria. Acordou com os sons que vinham da rua. Não eram os mesmos aos quais estava acostumada, mas lhe pareciam familiares e, ao mesmo tempo, muito diferentes daqueles que ouvia todos os dias.

Não conseguia acreditar. Olhou para o quadro e viu a menina de quatro anos usando uma máscara de adulta, estava usando a sua máscara, era a sua imagem que ela via no quadro. A menina havia perdido o seu olhar angelical, seus olhos demonstravam certo pavor, uma mistura de medo e desespero, uma aura de ansiedade pairava no ar...

Pensou estar sonhando, mas nunca sonhava, ou, pelo menos, nunca se lembrava de nada. Aquilo era real. Correu até o banheiro, suava frio, coração batendo acelerado, um medo de morrer, o pânico começava a dominar suas emoções, já não controlava os seus pensamentos. Parou diante do espelho e gritou.

Não conseguia ver a sua imagem, apenas o rosto da menina de quatro anos, mas seu olhar era de desespero. Lembrou-se da vez que havia se perdido de sua mãe num shopping. Sentia o mesmo pavor, suava frio e chorava até que alguém, um anjo talvez, segurou sua mão e a levou até um balcão onde uma moça com voz rouca chamou o nome de sua mãe pelo microfone. Alguns minutos depois, quase uma eternidade para uma criança perdida, sua mãe chegou e lhe abraçou tanto que quase lhe faltava o ar.

Acalmou-se e sua respiração começou a voltar ao normal. Era uma menina agora. Podia respirar livremente, pois não havia mais nenhuma máscara que lhe sufocasse. E começou a sorrir e o fato de que o seu corpo de mulher era agora o de uma menina de quatro anos já não lhe chocava mais. Sonho? Milagre? Não se empenhou em descobrir, mas em desfrutar daquele momento que tanto desejou durante anos de sua outra vida.

Não era o seu apartamento. A mobília, os quadros de flores nas paredes, o cheiro vindo da cozinha, o barulho da panela de pressão... Não, realmente não era o seu moderno apartamento de cozinha americana com cheiro de nada.

Escutou a voz de sua mãe que a chamava para almoçar. Sua mãe aparentava muito mais jovem. Na televisão, estava passando os desenhos animados de que tanto gostava. Não poderia ser sonho, tudo era muito real. Começou a correr pela casa e a gargalhar histericamente para a estranheza de sua mãe. Estava num mundo sem problemas e ali poderia ser ela mesma, sem se importar com o que o mundo iria dizer ou pensar. Não havia regras, apenas brincadeiras e sorrisos. À noite, sentava na cama para falar com Deus e contar-lhe tudo o que fez durante o dia. Deus a escutava, mas ficava em silêncio. Ela acreditava que Ele não dizia nada porque deveria ter adormecido enquanto ela falava sem parar. Pensava em Deus como um velhinho de mil e tantos anos, por isso já devia estar muito cansado para um conversa tão longa. Entretanto, ela não se importava, sentia que Ele a escutava mesmo dormindo e isso já era o suficiente. Tinha um amigo, um confidente, talvez o único que soubesse do seu segredo.

Não tinha nenhuma noção de tempo, de data, de ano, de nada. Só sabia quando era dia ou noite. Não queria preocupar-se com nada, nem com o tempo, apenas brincar, ver desenho animado e sorrir.

Passaram-se alguns meses, talvez anos... E a menina feliz começou a se entediar com a vida de criança. Já não sabia com o que brincar e já não via mais tanta graça em tudo. Sorrir de quê? A felicidade estava se tornando um tédio, sentia falta da vida de adulta, do mundo dos “crescidos”, mesmo que isso lhe custasse usar a máscara novamente.

Na verdade, o que queria mesmo era a junção das duas vidas para que pudesse ter passagem livre entre os dois mundos e refugiar-se em um quando se entediasse do outro. No fundo sabia que isso não era possível. Teria que escolher um mundo apenas.

E por alguns dias, pensou, pensou muito e resolveu pedir a Deus que a ajudasse a decidir. Entretanto, Deus não lhe respondeu. Quiçá ainda estava dormindo ou muito ocupado com os milhares de problemas do mundo dos “crescidos”.

A felicidade a que tanto desejara agora a entediava, contudo tinha medo de perdê-la. Enfim, tomara uma decisão. Toda a noite, antes de dormir, olhava para o quadro e se imaginava vivendo em seu mundo adulto. Por muitas e muitas noites, deitava na cama observando o quadro. Levanta-se logo cedo, corria para o espelho do banheiro e percebia que nada havia mudado. A imagem do espelho era a mesma: a menina do quadro, bochechuda e com cabelos cacheados. No entanto o olhar... O olhar de desespero, o mesmo de quando havia se perdido de sua mãe no shopping...

Tinha a mesma sensação de angústia e medo de estar perdida para sempre naquele mundo que já não lhe pertencia mais. Chorou, chorou até que caiu adormecida no chão do banheiro.

Despertou com um ruído incessante, uma música que não parava de tocar e se repetia e se repetia... Levantou-se e foi até o quarto. O celular tocava e vibrava sobre a sua escrivaninha. Ainda um pouco atordoada, atendeu ao telefone e do outro lado da linha ouviu a voz de sua secretária dizendo que todos já estavam aguardando na sala de reuniões. Lavou o rosto, vestiu a primeira coisa que viu pela frente e saiu na rua com um sorriso que se escondia atrás da máscara. Andava com pressa, os problemas a esperavam, tudo como antes. Sempre fora feliz, mas só agora tinha certeza.

(10/06/09)


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