segunda-feira, 18 de outubro de 2010

COBRA









Vem,

vem,

linda se arrasta

Sinuosa

e brilhante

se afasta

Se enrosca,

se estira,

arma um bote

Dos dentes,

gotas de veneno

Do

olhar,

desafio à morte

Só,

em muitas

feroz,

voraz,

atroz

Elegante animal,

arrasta-se sem vergonha

Sem pernas,

braços,

pescoço

Apenas

os movimentos em “o”,

em “s”

Rápida,

ágil,

precisa

Não lhe faz falta

a falta de membros

Poderosa,

continua

a seguir mundo afora

Ou a entrar mato adentro

Ao subir

na árvore,

Enrola-se nos galhos

Disfarça-se nas plantas

E pára.

E olha.

E encara.

Da boca,

a língua bifurcada

Num entra e sai incessante

Interminável,

infinito

(até chegar ao seu finito)

Cor,

visgo

Na pele fria e áspera

Sensações,

pavor,

medo,

nojo

Resumidas numa única

picada

Num único contato

de carne com veneno

Tontura,

perdendo os sentidos

Prazer,

perigo, morte

Eis que vence a cobra

Cobra,

só,

muitas em uma

Venceu,

saiu no silêncio

Leva seu corpo sem membros

Pára

e

espera

a

próxima

vez.

































foto: http://cliffsmithoriginals.com/MainPages/Abstract_Paintings.html

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