sexta-feira, 28 de maio de 2010

João já contou

- Num sei não, moço. Ora qui eu nunca foi qui vi disso pressas banda. E óia qui nês mundão di meu Deus eu já vi foi di tudo. Di tudo qui ocê pensá qui eu já vi, eu já vi. Disso num vi inda não. Tô cabreiro. Hum...Óia qui isso vai ficá pió. Chiii, tem jeito não, moço. Eu num cunheço disso, num vi e nem vô pudê ti ajudá. Má o troço é instranho, é de uma feiura só dele... Ó! Mai como qué isso...Óia, óia bem...isso é coisa du Trancoso. Num sabe não,é ? Ocê num cunhece o Trancoso não? Chiii, é muitcha coisa pá contá. Pressas banda a gente iscuta di monti. Cunheço di muitcho, muitão. Má disso aí eu num cunheço não. Nunca vi não. É di uma instranheza só dele, deve di sê da maó instranheza dês mundão di meu Deus. Ói, moço, óia só, óia bem. Vixê qui nunca vi. Êta qui já tô me arrupiando. Isso devi di sê sumbração. Tenhu medo di sumbração desdi tempos. Ói, tá mi...Vô saíno, ficu não, ficu nada. Ocê qui tem coragi intão fica. Eu não, sumbração eu queru nem di longe, di lonjão muitcho. Ô, moço, corri tamém. Isso num vai tê fim qui preste. Moço, corre, fique não. Pra quê coragi dibaixo da terra? Si saia, qui eu já tô saíno, saíno...Ô moço, fique daí não. Vem pá cá. Aqui tem pirigo não. Aqui tô seguro. Óia, aqui eu tô é di lonjão, queru vê si isso mi pega. Pega nada. Vem, moço. Isso, sai daí qui é mió. Vem, isso, isso. Agora cê tá longe qui nem eu. Aqui tá siguro. Daqui a gente podi vê mai sussegado. I sussego é bom, discansa a alma aflita dos pirigo do mundo. Ocê já ficou de alma aflita? Fique não qui é ruim pá daná. Já fiquei sim, certa feita, faiz muito dos tempo. Foi coisa longa, má tá tudo na cabeça, isqueci di nadinha não. Alma aflita é rúim memo. Ocê num vai creditá, má eu sei calmá alma aflita. Já calmei muitcha alma presse mundão di meu Deus, foi muitcha memo. Eu curo, sô bom curadô di alma. Deus mi feiz curadô i eu saio pela aí, calmano alma. Ocê qué qui eu conte dum caso di alma aflita? Faiz muito dos tempo, foi pressas banda memo. Um sujeito ficô doido, assim, pá-pum. Ninguém sabia o qui era não. Quando vi o moço, novo, novo, suano, o corpo todo si tremeno, num pensei dimais, disse logo: é alma aflita. Num é loucura não, prece qui é, má eu sabia qui num era. Peguei no moço, todo se tremeno, pió qui vara verde. Tivi pena dele, tão moço, tanta coisa pá vivê i já di alma aflita. Mi peguei com meu Pai i fui pá salvá o infeliz. Juntei mías mão, mirei pru céu, chamei meu puder. Botei mías mão nele até calmá a alma dele. O rapaz foi parano de suá, foi calmano, foi calmano, pronto. Quando vi qui não, tinha salvado ôtra alma. Fiquei filiz qui só i o rapaz tamém. Ficô muito gradecido cumigo. I é isso, vô curano alma, mas daquilo dali eu nunca vi não. Sabe que oiando assim pá ocê, prece que tô veno o rapaz que eu salvei? Oia qui é igualzinho. Num tira nem põe nada, má prece memo. Ô, moço, vai pá lá não. Fica aqui. Lá tem coisa rúim di si vê. Aqui não. Aqui é siguro. Moço prece qui tá apegado com aquilo, tira da memóra, deixa pá lá qui passa ôtro i dá um jeito. Vixê qui ocê prece memo, tem o jeito todo, prece que tô veno o rapaz na mía frenti, só qui ocê é poco mai claro. Oia pá lá não, moço. Tira da memóra. Num vá lá não, moço, me inscute. Ei, ô moço, deixa isso aí e vá simbora qui eu já salvei tua alma! Tua alma tava aflita i eu salvei. Deixa isso aí i vá simbora, vá com Deus qui ele ispera ocê, vá logo, num me cria pobrema pela aqui não, moço. Ninguém tá veno, só eu tô veno ocê, só eu i Deus, má eu num queru mai proseá cocê não. Vai cum Ele, vai logo qui eu vô mimbora. Quero pobrema pá mim não. Deixa isso aí, isso num serve di nada mai não. Cria pobrema pá mim não. Vô ino presse mundão di meu Deus salvá mai alma aflita. Di nada!

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