quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Patriota, eu?






O pior estrangeiro de todos que já conheci me parece ser o brasileiro. Não nas outras terras, mas na própria. Tenho a impressão de que o brasileiro, inconscientemente, ainda carrega o ranço de colônia de uma grande potência. A diferença é que no passado não havia opção: era para aceitar tudo o que vinha de fora, ainda que “o de fora” fosse infinitamente menor do que “o tudo” que havia aqui dentro.



Hoje, bem, na verdade, não tão “hoooje”, mas após 500 aninhos (as time goes by), é possível dizer que a situação se inverteu (assim espero, acredito e/ou levo fé). Existe a opção, aliás, um leque espanhol de opções. Entretanto, mesmo com a liberdade de aceitar o que quiser, “TODOS”¹ querem “o tudo” que vem de fora (ainda que o “Made in Brazil” seja infinitamente melhor): calçam Nike, dirigem Toyota e comem fast food (Pizza Hut, por exemplo. Argh!)



É muito fácil identificar um estrangeiro no Brasil: eles trazem o seu país no coração, nas roupas (algumas combinações um pouco fora da realidade), no idioma e até mesmo no sotaque carregado quando tentam falar o português. O italiano orgulha-se da sua melhor pasta (=massa), o espanhol, da sua melhor tortilla, o francês, do seu melhor champagne, o cubano, do seu melhor charuto, o colombiano, do seu melhor café (mas o nosso também não fica atrás), o português, do seu melhor vinho do Porto, o suíço, do seu melhor chocolate e queijo, o alemão, da sua melhor cerveja,o americano, do seu melhor tudo (pois acredita que tudo do seu país é melhor). E os brasileiros? Bem, estes comem hamburgers (que é um grande exemplo do “tudo americano é melhor”).



Brasileiro tem vergonha de pedir feijoada, tutu à mineira e comer acarajé. Prefere pagar caro para negar a sua origem. Uma espécie de antropofagia capitalista. De acordo com o pouquinho das aulas de história que ainda me lembro, os canibais comiam um pedaço do estrangeiro aprisionado, pois acreditavam que assim ganhariam um pouco das virtudes ou da força deste. Atualmente, ainda se faz um pouco disso, mas para se sentir como um deles (os estrangeiros). Há quem acredite que comendo e/ou se vestindo como eles, viajando para os seus países e falando, ou melhor, imitando o seu falar (apesar do sotaque brasileiro que entrega), será cada vez menos brasileiro e mais e mais, more and more, mucho más un estranjero.



Está ficando difícil encontrar brasileiros que saiam do armário verde e amarelo e assumam a sua brasilidade. Patriotismo só existe na época da Copa ou das Olimpíadas. É uma explosão de bandeiras saindo de todos os lados, gritos orgulhosos (quase ufanistas) ecoando pelo ar que às vezes até assustam. Todavia, bastou o Brasil ser desclassificado e voltar para casa que todas as bandeiras voltam para a gaveta na esperança de que em quatro anos serão novamente exibidas pelos “patriotas jambos” (que só dá na época certa).



Pobre Pátria, que só é amada no Hino Nacional o qual apenas alguns de seus filhos sabem cantar corretamente. Brasil tem problemas mil (olha que riminha fofa), sabemos que ele não faz muito a linha do “ordem e progresso”, ainda está muito jovem, indeciso quanto ao rumo que deve tomar, um pouco rebelde... Contudo, vejamos o lado bom do menino que também é grande, bonito, rico e criativo. Uma pena que muitos brasileiros (e –leiras) “ainda” não saibam (ou não querem saber ou têm muita raiva de quem sabe) o tesouro verde-ouro que têm. Às vezes é preciso que um estrangeiro lhes diga.



Brasileiros e brasileiras, não sejam enrustidos. Abram a porta do seu armário verde e amarelo e sejam vocês mesmos: brasileiros do Brasil. Pra quê melhor?



¹ Favor avisar caso você não se enquadre neste “TODOS”. Obrigada.

(22/01/10)




Origem da imagem:http://www.alltv.com.br/wp-content/uploads/2009/06/made_-_logo.jpg











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