domingo, 8 de novembro de 2009

O andarilho de paletó

E como me chamava a atenção. Desde que havia mudado para aquele bairro, diria que aquele era o personagem mais interessante do lugar. Não tinha casa nem apartamento, apenas caminhava. De dia a noite, seguindo todas as direções da rosa dos ventos. Caminhava como se estivesse com pressa, querendo chegar a algum lugar, talvez um lugar que não existisse ou que, pelo menos, não era visível aos nossos olhos. E ele caminhava na direção que lhe parecia sempre certa, seguia o caminho que o levaria ao lugar imaginário, real, invisível, concreto, inexistente aos demais e o único lugar ao qual ele poderia chamar de seu, de sua casa ou de seu apartamento.
E como caminhava, sempre com pressa, pressa dos grandes executivos que atravessam as grandes ruas das grandes cidades , engarrafadas de gente e habitadas por carros...
Assim como os grandes executivos, também usava paletó, mas não trazia nenhuma "briefcase", nenhuma maleta, só a pressa de chegar ao lugar que ele podia chamar de seu lar, sua terrinha do nunca, seu pequeno planeta de pequeno príncipe, um príncipe franzino, negro, fumante...
E caminhava, olhando sempre para frente. Às vezes parava diante de um edifício. Na verdade, só parava diante deste edifício e olhava, hipnotizado, esquecendo-se do seu lugar, como se aquele edifício fosse o lugar ao qual deveria chegar, o seu lugar...
Dava um repente e saía, continuava andando, mexendo os braços como se fosse um atleta prestes a chegar na reta final...
Histórias sobre ele eram muitas. Todas trágicas. Havia sido muito rico e perdeu tudo, o edifício pertencia a sua família e tantas outras, tantas histórias criadas para preencher o vazio da curiosidade.
E ele não se importava, continuava a caminhar, queria chegar, movendo os braços, mexendo a boca como se estivesse contando de 1 até 1 milhão, às vezes fumando um taco de cigarro, ignorando os olhares alheios daqueles que se afastavam quando ele se aproximava, abrindo caminho para que ele passasse, olhares de medo por acreditarem estar diante de um louco, olhares de pena daqueles que pensanvam estar diante de um simples mendigo, talvez olhares de raiva daqueles que acreditavam estar diante de um vagabundo que não queria nada da vida...
E ele queria, ele queria muito, ele queria muito chegar ao seu destino, ignorando todos os olhares de pena, medo ou raiva, olhando sempre para frente, movendo os braços como atletas e fumando, e caminhando com a pressa dos executivos, pois queria chegar ao seu destino, queria chegar, queria caminhar, queria o seu mundo...
Neste, com toda certeza, ele só estava de passagem.

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