domingo, 7 de novembro de 2010

O conto de mim mesma


O que falar de mim mesma num conto? O que contar num conto de mim mesma?

Quem é mim mesma afinal? Nem eu sei. Alguém poderá saber? E se souber, vai querer saber mais? Vai saber, né?

O conto de mim mesma não pode ser chato apesar de ser sobre mim mesma. Não que um conto sobre mim mesma seja chato, eu não sou chata, mas aquele alguém que poderá saber mais de mim do que eu mesma, sei lá, poderá achar chato, mesmo sem me achar chata. Saber muito sobre algo é chato independente desse algo ser chato ou não.

Até concordo em partes. Afinal, um conto sobre uma pessoa, independente de quem seja, pode ser chato mesmo que a pessoa não o seja. Viu, já está ficando chato. Estou me repetindo.

E como não se repetir ao falar de si mesmo? É, estou começando a ficar chata, já me sinto assim agora e o conto, como conseqüência, também vai ser chatíssimo. Nossa Senhora, que coisa chata! Como pude ter uma idéia dessas? Aliás, eu não fazia idéia de como eu poderia fazer um conto sobre mim mesma e, após certa tentativa, estou fazendo idéia de como eu sou chata através da chatice do meu conto. E se isso não for um conto? Uma crônica? Uma poesia?

Ah, não sou especialista. Na minha cabeça (e no título) veio a imagem de um conto. E não posso contrariar a mim mesma e muito menos a um título!

Que se dane o que quer que isso seja. Agora que estou no meio, eu quero terminar. Conto tem que ter início, meio e fim. Já iniciei, me perdi no meio da coisa, parece uma areia movediça e vou afundar antes de chegar a um fim. Será esse o meu fim? O fim do conto que eu nem sei se é sobre mim mesma ou se é um conto?

Um fim trágico numa areia movediça não seria tão chato assim. Eu quis dizer que não seria má idéia. Acho que estou explicando demais e num conto não se explica, conta. O que eu contei até agora?

Nem tinha o que contar, mas é que o título veio tão bonito na minha cabeça que eu não quis desperdiçar. E eu tenho um respeito danado por título que... já viu, né? Eu já falei sobre isso num parágrafo lá em cima...

Olha eu me repetindo e de novo e de novo. E o que é que tem eu usar o pleonasmo? Ser redundante? Por que vou esconder o meu vício? Quer dizer, o vício nem é meu, é da linguagem, mas quem está usando ela agora sou eu.

E eu termino o conto de mim mesma que não tem uma linha sobre mim. Eu queria mudar o título, se eu não tivesse tanto respeito pelo que está lá em cima, para “o conto de mim mesma justificando” ou “o conto da justificativa”. Que difícil, não? E você sabe o que mais me dói? (E o título que não me ouça!) É que dentro de mim fica aquele sentimento de que o conto de mim mesma não passa de uma crônica maluca, cronicamente chata!





                                                                                                             (07/11/10)










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