terça-feira, 30 de novembro de 2010

O presente de 15 anos (bastidores do conto)



A verdade verdadeira é que a autora deste conto, que por sinal sou eu mesma, é uma eterna apaixonada por fuscas e, ao contrário de Lalinha, ainda não teve o seu sonho realizado. Aliás, um dos muitos que todos nós temos, afinal, que falta de criatividade ter um sonho só!
E de onde vem esta paixão tão avassaladora por este ser de quatro rodas? Bem, como já não sou mais tão garotinha quanto Lalinha, nem preciso dizer que esta história vem de longe, preciso? Ué, já disse mesmo!

Mami, na década de 70 (eu disse que vem de longe), tinha um fusca. O pobre foi roubado. Acreditem ou não, mas o fusca já foi um carro muito visado alguns anos atrás por aqueles fazedores de bugre dos inferno! Não vejam inferno como uma palavrão, apenas um rápido desabafo.

Acharam o fusca de Mami, mas ele estava tão depenado que ela preferiu não ficar com ele. Foi quando ela conheceu Papi que, assim com ela, também tinha um fusca. Fusca vai e fusca vem, fui gerada. E claro, como todo feto que se preze, eu tinha que nascer. E assim o fiz. Ao sair da maternidade, um amigo de Mami nos deu uma carona no seu fusca. Vermelho.

O tempo passou (aliás, ele não sabe fazer outra coisa, né?) e devido ao trabalho de Mami, nós mudamos para o Rio de Janeiro. Lá, passei parte da minha infância andando no carro da minha tia: um fusca branco chamado John Travolta (que nessa época estava no auge). Ele era lindo, o fusca é claro. O verdadeiro John? Até que ele não era de se jogar fora.

Foram muitos momentos bons, idas ao supermecado que poderia ser grandes aventuras na mente de uma menina de 4 anos de idade. O tempo, já sabe, entendiado com a própria vida, resolveu passar mais um pouco. E eu já tinha algo mais do que 7 anos. Chegou a minha prima em casa, chorando, nervosa, trazendo a notícia que John Travolta havia sido roubado. Numa rua cheia de carros novos da época, aqueles fazedores de bugre lá do segundo parágrafo haviam levado o meu John. Chorei e chorei e nunca mais o esqueci. John não teve a mesma sorte que o fusca de Mami.

Olha o tempo passando... E lá estava eu com quase quinze anos, quando encontrei o namorado que dançou a valsa comigo. E também me ensinou a dirigir, tentou arduamente. E assim dirigi o meu primeiro fusca. Azul.Resolvi levar a sério o negócio de dirigir. E fui pra auto-escola. Lá tive as minhas aulas teóricas e depois as práticas num fusca. Amarelo. Em todos eles eu via um pouco de John Travolta.

E desde então, nunca mais tive nenhuma experiência mais íntima com nenhum fusca. Mami passou a me trazer miniaturas de todos os lugares que visita: tenho fusca até da Suiça!

Certeza das coisas da vida, não tenho muito. Só não posso negar uma coisa: aquela certezinha que vem lá do fundo da caixinha de sonhos, sussurrando dentro de mim que um dia eu terei o meu fusca. Se for menina, vai ser Frida Khalo e menino, Almodóvar. Por quê? Ah, não, isso fica pra outra...

Ah, se meu fusca falasse... Ah, se eu tivesse um fusca pra chamar de meu...

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