domingo, 7 de março de 2010

Quanto mais idiota, melhor.


Hoje em dia para ser famoso não precisa fazer muito esforço. Não precisa pintar um quadro maravilhoso ou lançar um livro que entre para história da literatura. Não, hoje em dia para ser famoso basta ser idiota.

Um exemplo? Que tal começar pela internet? É impressionante a seleção dos vídeos mais vistos. É de uma idiotice do tamanho da rede. Então eu me pergunto: o mundo está evoluindo tanto, avançando cada vez mais tecnologicamente e ficando cada vez mais... idiota? Isso é preocupante? Eu acho que sim, caso contrário eu não estaria aqui, quase uma hora da manhã, escrevendo sobre isso, eu iria estar vendo algum clipe idiota do Youtube ou estaria dormindo com aquela cara de idiota após ver um clipe do Youtube (o que vai dar no mesmo).

E na televisão? Uma enxurrada de idiotices. Estão apelando cada vez mais para o absurdo do absurdo do idiota e, o trágico de tudo isso, é a audiência. Uma nação de idiotas? Quem sabe, uma humanidade de idiotas, pois o efeito idiota não é apenas verde e amarelo, basta assistir um pouco de canal fechado e vê o que se anda produzindo lá fora. Quero algo assistível, se é que isso existe (tanto a palavra quanto o "algo" em questão), algo que não ataque a minha gastrite, a minha dignidade de ser pensante, algo que não seja idiota.

Tudo em nome da fama: baixaria, apelação, bizarrice e sai da frente! Vale o que tiver mais acesso ou mais audiência. Talento e criatividade são coisas do passado, demora muito e o resultado não é imediato, não cola, não pega, enfim, não é idiotizador o suficiente para fazer sucesso.

Tem que falar mal do fulano, xingar o cicrano, tirar a roupa, ter orgasmo em rede nacional, filmar o parto normal (ou anormal para alguns, afinal dor é muito relativo), se divorciar e gritar aos quatro cantos do mundo, casando-se logo em seguida, sair do armário (ou entrar nele de novo), dar selinhos a torto e a direita para provar que é sexualmente bem resolvido e muuuuuito aberto (a), enfim, um tsunami de eventos que vêm abarrotados dentro de revistas coloridas com muitas fotos (autorizadas ou não) e/ou reality shows e/ou programas “informativos” sobre a vida dos outros (cuja existência não acrescenta nada na minha vida) e/ou etc,etc,etc.

Já se foi ( e como se foi e se foi rápido pra caramba) a época do “uma idéia na cabeça e uma câmera na mão” e o resultado: filmes historiadores (uma maneira diferente de dizer “filmes que fizeram história”). Hoje em dia, não é mais necessária a “idéia na cabeça”, basta uma webcam e um amigo com cara de idiota que tope fazer nada por alguns minutos diante da câmera ou talvez uma dublagem infeliz de uma música qualquer com cerca de 100 caras e bocas por segundo e pronto, um clipe feito, jogado na rede, um milhão de acessos, sucesso total e viva a idiotice em massa! Massa podre talvez, mas daquela que nem dê para fazer uma empada.

Revoltada, preocupada, arrasada, boquiaberta, só espero que eu não esteja só nessa crise de indignação. Gente, o que a nova geração está gerando para si mesma? O digerível? O descartável? O instantâneo? O esquecível? Memória é coisa de velho, o agora é o que vale, assim, como um efeito de um ecstasy ou cristal. Aiii, que medo de viver sem passado! Imagina saber para onde vou sem ter a noção de onde eu vim?

Ainda não cheguei aos quarenta, mas às vezes me sinto como se tivesse cem de tantas que são as minhas interrogações diante dos considerados “top 10” do ano, da semana, do dia, da hora, do minuto e tic e tac e tic e tac.

Deram a largada para a corrida do “Quanto mais idiota, melhor”. E haja torcedor e competidor neste circo dos “reality horrores shows”.

Eu olho e me pergunto: Quem produziu? Quem divulgou? Quem teve a coragem de trazê-los ao mundo? Como pode ser tããããããõ idiota?

O pior é que quando você não ri ou diz que não vê razão para tanto, você é visto (a) como uma pessoa infeliz, mal-amada, mal-comida, mal-dormida, tudo de mal, inclusive o senso de humor que não é mau, é péssimo.

Ok, tudo bem, chamem do que quiser: mal-amada (sabe Deus!), mal-dormida (sim, um pouco), mal-comida (muito pessoal), podem me chamar do que quiser pois não retiro uma vírgula do que aqui escrevi.

E para que não me vejam como a “super-intelectual arrogante” ou a “mega-puritana do século”, confesso que já dei algumas risadinhas com certos clipes e algumas espiadelas nas revistas coloridas no salão de beleza, afinal dê o primeiro clique quem nunca o fez! O problema é a intensidade e a freqüência com que isso é feito. Nada que venha a anular o ser pensante e criativo que pulula 24 horas dentro de mim. Sinto muito se nem sempre eu sei apreciar as coisas bobas da vida. Se isso faz de mim uma verdadeira infeliz, tudo bem. O que eu não quero é ser idiota. E por favor, me incluam fora dessa!

(06/03/10)



Tradução da foto: "Insira um cérebro aqui"




       

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